Por André Garcia
O Brasil está apostando na restauração ecológica como uma das formas mais eficientes e econômicas de responder à crise climática e seus impactos socioeconômicos. Com o desmatamento da Amazônia em queda, esta pode ser a chance para a ampliação dos investimentos em conservação da biodiversidade no Cerrado, atualmente o ecossistema mais ameaçado do País.
Ao avaliar o cenário da restauração brasileira, o Líder de Florestas e Restauração da The Nature Conservance (TNC), Rubens Benini, aponta que estamos na vanguarda. A agenda nacional, segundo ele, tem exemplos práticos em todos os setores: público, privado, universidades e sociedade civil.
“Um a um, ou de maneira integrada, estamos buscando aprimorar as governanças e fomentar iniciativas tecnológicas com alto potencial para ganhar escala e promover efetivamente a transformação necessária”, avalia Rubens.
De Goiás vem alguns exemplos disso, como o da Associação Cerrado de Pé, que tem foco na coleta de sementes e na restauração. O projeto contempla 100 famílias, majoritariamente quilombolas, e coletou 29 toneladas de sementes nos últimos cinco anos, gerando renda de mais de R$ 770 mil para as comunidades.
Outra história bem-sucedida é a da Virada Ambiental, que, com parceria e boa vontade garantiu o reflorestamento de mais de 1.600 hectares de Cerrado. Idealizada pela Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), a ação garantiu que mais de 1 milhão de mudas fossem semeadas nos últimos quatro anos.
Regeneração natural assistida
Segundo Rubens, durante a Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, COP28, ficou nítido que a grande aposta mundial segue sendo a regeneração natural assistida (RNA) que possibilita o ganho em escala a menores custos. Isso porque a estratégia considera a restauração passiva, na qual a área de atuação é isolada e a natureza segue seu o seu curso, com pouca intervenção humana.
“De 2001 para cá, e junto a inúmeros parceiros, ajudamos a restaurar mais de 100 mil hectares em 10 estados brasileiros, e em mais de 70% foi adotada a técnica de regeneração natural”, afirma ao lembrar que a TNC Brasil vem defendendo a modalidade ao longo das décadas.
Investindo no futuro
Embora implementar essas ações exija superar desafios, realizar investimentos consideráveis e inovar em larga escala, a justificativa para executá-las é mais prática, já que a década atual é vista como crucial para a sobrevivência no Planeta. Assim, enfatizando a importância da estratégia para os próximos anos, Benini aponta que é necessário tomar mais riscos e aprender de forma mais rápida possível.
“Conservação e restauração florestal são alguns dos principais pontos de convergência nas agendas do clima e da biodiversidade, especialmente em países como o Brasil, onde conter os avanços da crise climática passa obrigatoriamente pelo fim do desmatamento e pela recuperação de seus ecossistemas.”
A boa notícia é que projetos de restauração ecológica estão em alta nas agendas da Governo Federal. Recentemente a iniciativa Floresta Viva , do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Petrobras lançaram edital no valor de R$ 42 milhões que serão destinados à restauração. O foco está na conservação do Cerrado e do Pantanal.
Serão selecionados até 9 projetos a serem implementados em corredores de biodiversidade que unem fragmentos florestais remanescentes de vegetação nativa, o que contribuirá para o deslocamento de animais e a dispersão de espécies vegetais pela propagação de sementes. Também está prevista a originação de créditos de carbono, ampliando os benefícios dos projetos.
Berço das águas
O Cerrado é um dos biomas com a maior biodiversidade do planeta, abrigando 5% de todas as espécies do mundo e 30% das espécies do País – muitas delas endêmicas, presente somente em uma determinada área. É também um dos biomas mais ameaçados pelo desmatamento: cerca de 30% de toda a área desmatada no Brasil em 2022 foi em regiões de Cerrado.
Reconhecido como o “berço das águas”, por abrigar as cabeceiras de alguns dos maiores rios brasileiros, o Cerrado também apresenta uma rica biodiversidade, com mais de 4.700 espécies catalogadas, sob ameaça do desmatamento e das queimadas.
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