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Fazenda com SAF garantiu produtividade mesmo na seca

Fazenda com SAF garantiu produtividade mesmo na secaRegulação do clima é uma das principais vantagens da prática. Foto: Joel Queiroga/Embrapa

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Por André Garcia 

Mais que uma alternativa para recomposição de áreas degradadas, os Sistemas Agroflorestais (SAFs),  podem se tornar a tábua de salvação para a agricultor, afetado por extremos climáticos cada vez mais frequentes e intensos. Só nos últimos 10 anos, os prejuízos decorrentes do clima são estimados em R$ 271 bilhões.

Assim, quando comparado a sistemas agrícolas convencionais, como a monocultura, o SAF mostra mais resiliência e aumenta as chances de adaptação das culturas. Isso se deve ao seu potencial de regulação do microclima, que reduz os danos e o estresse causado por temperaturas elevadas e estiagens prolongadas.

Essa capacidade foi constatada no sítio Taboca, em Alta Floresta, (790 km de Cuiabá), onde há mais de 10 anos o agricultor Eduardo Darvin aposta nesta prática. Ao Gigante 163, ele contou que, embora tenham sido observados os impactos da seca sobre os custos, o SAF garantiu a continuidade da produção ao longo de todo o ano.

“Na minha propriedade e de outros agricultores parceiros, devido a combinação de diferentes estratos arbóreos no sistema e práticas de manejo como cobertura do solo, podas e sombreamento adequado, temos um sistema mais resiliente que mantém uma temperatura mais baixa”, diz

Recentemente, um estudo realizado no sítio agroecológico da Embrapa Meio Ambiente confirmou que, dentro do SAF, a luminosidade e a temperatura são consistentemente inferiores em comparação com o ambiente externo. Já a umidade relativa do ar segue uma tendência oposta, sendo superior dentro do SAF.

“Ao diminuirmos a taxa de evapotranspiração, consequentemente, a demanda por água para irrigação é menor, o que diminuiu o estresse hídrico das plantas”, acrescenta Darvin.

Biólogo por formação, ele explica que o SAF atende às demandas de mercado ao mesmo tempo em que se ajusta à realidade do produtor, uma vez que a gestão da área e o desenvolvimento das espécies são influenciados tanto pelas condições ambientais específicas de cada região, quanto pelo contexto socioeconômico dos proprietários.

Eduardo Darvin é biólogo e adota o SAF em sua propriedade há mais de 10 anos. Foto: Embrapa

No Taboca, onde o cultivo de espécies agrícolas e arbóreas é feito de modo consorciado, imitando a sinergia que ocorre na natureza, esta dinâmica vem assegurando a continuidade da produção de mandioca, abacaxi, banana, inhame, cará, pupunha, açaí, cacau e café mesmo durante os meses de seca intensa.

Larga escala

Fruto da “comunhão” entre produção e natureza, esses resultados também podem se estender para outras culturas, como a de soja, que, como já mostramos, sofreu com as altas temperaturas e estiagem no final de 2023. Para se ter ideia, neste ciclo foram colhidos no País cerca de 25,7 milhões de toneladas da oleaginosa a menos que na safra passada.

“Tecnicamente não existem impedimentos, porém falta investimento em máquinas adaptadas a esse sistema, ao manejo diferenciado de espécies agrícolas, de plantas de serviço e das árvores de interesse econômico do sistema”, pontua Eduardo.

Sobre o conceito de produção em grande escala, Eduardo reforça que a viabilidade da estratégia depende de uma mudança cultural entre os produtores que vem trabalhando exclusivamente com grandes monoculturas.

“Não é que em uma grande quantidade de terra não pode ser cultivado o SAF. São as pessoas que têm grandes propriedades é que não se adaptam, já que observamos grandes quantidades de terra nas mãos de poucas pessoas que não se envolvem ou não investem nesse tipo de sistema”, pontua.

Lucratividade

No ano passado, uma análise do Instituto Escolhas mostrou que recuperar 1,02 milhão de hectares de áreas desmatadas com Sistemas Agroflorestais pode render 156 milhões de toneladas de alimentos e ainda remover 482,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera.

De acordo com o instituto, um investimento de R$ 33,1 bilhões em uma área de 1,02 milhão de hectares de terras desmatadas em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e localizadas em pequenas propriedades pode ser revertido em ganhos de R$ 260 bilhões de receita líquida. Ou seja, quase oito vezes o valor aplicado.

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