Por André Garcia
O Brasil perdeu 400 mil hectares de sua superfície de água em 2024, mantendo uma preocupante tendência de queda registrada desde 2009. Alimentada pelo aquecimento global, por eventos climáticos extremos e pelo avanço da agropecuária, a crise tem maior impacto sobre a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal. Os biomas fazem parte de Mato Grosso, estado que lidera o ranking de perdas.
É o que mostram dados divulgados pelo MapBiomas na sexta-feira, 21/3. De acordo com a plataforma, o País registrou 17,9 milhões de hectares de superfície de água no ano passado, uma redução de 2% em relação a 2023 e de 4% abaixo da média histórica iniciada em 1985.
“Esses dados servem como um alerta sobre a necessidade de estratégias adaptativas de gestão hídrica e políticas públicas que revertam essa tendência”, afirma o coordenador técnico do MapBiomas Água, Juliano Schirmbeck.
Na Amazônia, a superfície de água diminuiu em 4,5 milhões de hectares na comparação com 2022, último ano em que houve aumento. O bioma registrou sete meses seguidos abaixo da média histórica, de junho a dezembro, e perdas superiores a 50 mil hectares nas sub-bacias do Rio Negro.
Já o Pantanal terminou 2024 com 366 mil hectares de superfície de água, o menor volume da série histórica e 61% abaixo da média. Durante todos os meses do ano, o bioma esteve abaixo do esperado, refletindo o agravamento das secas e o aumento das queimadas que consumiram a vegetação da região.
“Desde a última cheia em 2018, o bioma tem enfrentado o aumento de períodos de seca e, em 2024, a seca extrema aumentou a incidência e propagação de incêndios”, ressalta Eduardo Rosa, da equipe do MapBiomas Água.
Ranking estadual
Dois dos três estados que mais perderam superfície de água em 2024 são do Pantanal. O ranking é liderado pelo Mato Grosso, que perdeu 291 mil hectares de superfície de água – uma queda de 34% – seguido pelo Amazonas e Mato Grosso do Sul, ambos com redução de 275 mil hectares.
Como esses estados têm tamanhos bem diferentes, esse número representou uma retração de 6%, no caso do Amazonas, mas de 33%, no caso do Mato Grosso do Sul – percentual semelhante ao do outro estado pantaneiro.
Quase metade (45%, ou 2507) dos municípios brasileiros estiveram com superfície de água em 2024 abaixo da média histórica em 2024. Esse ranking é liderado por Corumbá, no Mato Grosso do Sul, que perdeu quase 260 mil hectares de superfície de água, o equivalente a 95% da perda registrada em todo esse estado.
Em segundo lugar está Cáceres, no Mato Grosso, com menos 167 mil hectares (57% do total perdido nesse estado), seguida por Barcelos, no Amazonas, com menos 102 mil hectares (37% do total do estado). Corumbá foi também o município que mais perdeu superfície de água em 2024 em relação a média da série histórica: menos 54%.
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