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Seca no Pantanal é impulsionada por avanço de pastagem

Seca no Pantanal é impulsionada por avanço de pastagemConversão de áreas naturais em pastagem reflete no pulso hídrico do Pantanal. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

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Por André Garcia

Um levantamento divulgado pelo MapBiomas na terça-feira, 12/11, evidencia a relação entre o avanço da agropecuária no Pantanal, a redução das áreas alagadas e o prolongamento do período de seca. O crescimento da atividade levou ao desmatamento de áreas naturais e a introdução de plantas exóticas para pastagem, cuja área aumentou 242% em 38 anos, influenciando diretamente a biodiversidade e a dinâmica hídrica da região, que está 61% mais seca.

Entre 1985 e 2023, as pastagens exóticas, ou seja, espécies de gramíneas e outras plantas forrageiras que não são nativas da região e foram introduzidas para alimentar o gado, passaram de 700 mil hectares para 2,4 milhões de hectares, aumentando justamente sobre as áreas naturais suprimidas.

De acordo com o levantamento, em 2023, as pastagens exóticas apresentaram pouca ocorrência de fogo devido à baixa biomassa seca disponível para combustão.  Isso, porém, explicita como o processo de desmatamento para conversão de áreas naturais em pastagem utiliza o fogo para facilitar a abertura de áreas naturais, para a limpeza do solo e na consolidação da pastagem.

Entre 1985 e 1990, a extensão da destruição causada pelo fogo correspondeu a áreas naturais em processo de conversão e consolidação de pastagem.Depois de consolidado o uso como pastagem, a incidência de fogo é pequena em relação à incidência em áreas naturais. No Pantanal e no período de 1985 a 2023, as pastagens exóticas correspondem a 4,8% de toda a área atingida por fogo.

“A frequência elevada de incêndios no bioma está associada à predominância de vegetação campestre, à alta incidência de variações no regime de inundação da planície e a períodos de seca prolongados”, explica Mariana Dias da equipe do bioma Pantanal no MapBiomas.

Impacto sobre a bacia do Rio Paraguai

Composto por patamares, serras, chapadas e depressões, o planalto da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP) integra os biomas do Cerrado e da Amazônia e desempenha um papel fundamental na hidrologia da planície pantaneira. Todos os rios da região nascem no planalto e fluem em direção à planície, até alcançarem o Rio Paraguai.

Seu pulso de inundação depende diretamente do fluxo de água proveniente do planalto. A dinâmica da cobertura vegetal e os tipos de uso da terra no planalto da BAP afetam diretamente a planície do Pantanal.

“O Pantanal já experimentou períodos secos prolongados, como nas décadas de 1960 a 1970, mas atualmente outra realidade, de uso agropecuário intensivo e de substituição de vegetação natural por áreas de pastagem e agricultura, principalmente no planalto da BAP, altera a dinâmica da água na bacia hidrográfica”, explica Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas.

Se em 1985 o uso antrópico das terras da BAP correspondia a 22% do total, no ano passado esse percentual já alcançava 42%.  O planalto da BAP tem 83% de todo o uso antrópico da BAP e entre 1985 e 2023, foram convertidos para pastagem e agricultura  5,4 milhões de hectares, dos quais 2,4 milhões de hectares eram florestas e 2,6 milhões de hectares eram formações savânicas.

O principal uso antrópico do planalto da BAP é a pastagem, que responde por 77% do total ou mais de 11,4 milhões de hectares, seguido pela agricultura e mosaico de usos, que juntos representam 20% (3,1 milhões de hectares) do uso antrópico na BAP.

Na planície, a perda de áreas naturais foi menos intensa e mais recente. Ao todo, foram suprimidos 1,8 milhão de hectares de vegetação natural entre 1985 e 2023, dos quais quase 859 mil hectares de formação campestre e campo alagado, 600 mil hectares de savana e 437 mil hectares de floresta.

Risco para todos

O Pantanal mais seco é risco para todos, principalmente para a agropecuária, que, como já mostramos, tem migrado para o interior do bioma e aberto cada vez mais áreas.  A atividade, que ocupava 5% da região em 1985, agora compreende 17% do território. O problema é que, neste cenário, as lavouras precisarão da pouca água restante para irrigação, contribuindo para que a região seque ainda mais rápido.

Outro exemplo de como a situação é prejudicial aos produtores é que, na planície pantaneira, 87% das pastagens exóticas apresentam baixo e médio vigor vegetativo.

“A substituição de áreas de formação campestre e campo alagado por pastagens exóticas na planície exige estratégias de manejo adaptadas às condições específicas de solo e à sazonalidade dos pulsos de inundação”, conclui Eduardo.

 

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