Por André Garcia
Em um cenário de temperatura recorde e crise no campo, o financiamento climático anual precisa atingir quase US$ 9 trilhões anualmente até 2030 para garantir a segurança alimentar no planeta. Para 2050, o valor, que beneficia setores diretamente ligados à redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), como a agropecuária, é de mais de US$ 10 trilhões.
Parte de relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgado em março, os cálculos são da Iniciativa de Política Climática e consideram o limite de aquecimento de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris.
Ao apontar a lacuna no financiamento climático, o estudo destaca que, embora o fluxo tenha atingido quase US$ 1,3 trilhão entre 2021/2022, quase o dobro do registrado entre 2019/2020, o valor ainda corresponde a apenas 1% do PIB global. Sendo assim, precisa crescer mais de seis vezes para evitar um colapso.
Em descompasso com o volume de operações, a quantidade de pessoas expostas à insegurança alimentar aguda em todo o mundo cresce de maneira alarmante. O número mais que dobrou, passando de 149 milhões antes da pandemia de Covid-19, para 333 milhões em 78 países monitorados pelo Programa Mundial de Alimentos.
Além das consequências dos extremos climáticos e meteorológicos, recessões econômicas e altos preços dos alimentos explicam a alta. Segundo o relatório, na raiz do problema estão os altos custos dos insumos agrícolas, impulsionados por conflitos em andamento e generalizados ao redor do planeta.
O que já temos
Há poucos dias, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) assinaram contrato para execução de R$ 10,4 bilhões pelo Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima). Este é o maior volume de recursos da história do fundo, criado em 2009.
A agricultura terá taxa de juros de 6,15% ao ano, a mesma aplicada a projetos de resiliência para adaptação climática das cidades e descarbonização da indústria. Já a taxa para restauro de floresta será de apenas 1% ao ano. As taxas mais altas são de 8% para energia solar e eólica, que têm um mercado mais bem estabelecido no Brasil.
Em dezembro, o País também lançou o Plano de Transformação Ecológica, que busca conciliar o desenvolvimento econômico setorial e social com a ação climática. A ideia é que o Estado facilite a concessão de incentivos pelo Sistema Financeiro Nacional às atividades econômicas sustentáveis.
Além disso, outras iniciativas do governo federal já passaram por reformulação alinhada à transformação ecológica, como o Plano Safra, do Ministério da Agricultura e Pecuária, (Mapa) por exemplo, que na atual edição ofertou melhores condições de financiamento às produções sustentáveis.
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