Por André Garcia
O Brasil pode dobrar a produção de culturas como a de milho verde, pinhão, jabuticaba e palmito a partir da adoção de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Se implantado em 1,02 milhão de hectares de área desmatada, o modelo resultaria na produção de 156 milhões de toneladas de alimentos para o país.
De acordo com estudo inédito publicado pelo Instituto Escolhas na terça-feira, 5/9, a produção total dos SAFs representaria um incremento médio de 5,2 milhões de toneladas de alimentos por ano, aumentando a oferta em quantidade e diversidade na mesa da população.
Os modelos propostos pelo levantamento consideram as características ecológicas e a aptidão produtiva das cinco regiões do país. Assim, no total, 43 variedades de alimentos de lavoura e extrativismo foram contempladas pelos pesquisadores.
Com relação a 15 alimentos sobre os quais há dados oficiais disponíveis para comparação direta, há aumentos variáveis. Por exemplo: 27,4% para o cacau, 40,4% para o cupuaçu e 71,1% para o pequi. Para as lavouras de ciclo curto, cultivadas nos três primeiros anos, o aumento é de 11% para o feijão, 12,4% para a banana e 28,9% para a mandioca.
Pequenas propriedades
A pesquisa reforça o compromisso do Brasil de recuperar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, meta assumida no Acordo de Paris. Para tanto, a gerente de projetos do Escolhas, Patrícia Pinheiro, destaca o potencial da regeneração de Áreas de Preservação Permanente (APP) desmatadas e localizadas em pequenas propriedades.
“Os dados reforçam que é fundamental direcionar recursos para a recuperação de florestas também nas pequenas propriedades, especialmente aquelas da agricultura familiar, que são, historicamente, importantes na produção e na diversificação dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros”, afirma Patrícia.
Investimento
Além do aumento na produção, o Escolhas mostra que os SAFs podem remover 482,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera e resultar no plantio de 2,03 bilhões de mudas. Para alcançar essas marcas, o país teria que investir R$ 33,1 bilhões na sua implementação, o que renderia ganhos de até R$ 260 bilhões, quase oito vezes o valor aplicado.
Do ponto de vista do agricultor, o retorno pode ser observado em pouco tempo. Isso porque, segundo Patrícia, a estratégia permite uma contrapartida em curto prazo, graças às culturas de ciclo rápido, e, ao mesmo tempo, assegura renda em longo prazo, graças ao cultivo de espécies perenes.
Como já mostrado pelo Gigante 163, essas são as características essenciais da proposta. Ou seja, o conceito Sistemas Agroflorestais pode ser resumido pelo plantío consorciado de plantas arbóreas nativas, frutíferas e/ou madeireiras e de cultivos agrícolas de maneira simultânea ou sequencial. Alguns deles podem incluir até a criação de animais.
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