Essenciais para a manutenção da vida e para a regulação climática, solos saudáveis exercem diversas funções no meio ambiente, sustentando o crescimento de plantas e funcionando como o maior reservatório de carbono terrestre. Em publicação do Um Só Planeta desta segunda-feira, 21/10, especialistas explicaram como a atuação conjunta da fauna, flora e microrganismos no solo estimula maior produtividade agrícola.
Segundo a professora Simone Cotta, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), um solo saudável contribui para o pleno funcionamento da agricultura por meio da atuação dos microrganismos que o habitam. Embora invisíveis a olho nu, eles trabalham como engrenagens em um sistema complexo, que depende da quantidade adequada de nutrientes e de água para garantir seus serviços.
“Atualmente temos a consciência que a planta atinge o seu auge de performance quando encontra um ambiente confortável, onde possa crescer e se desenvolver. Esse ambiente confortável é um local onde ela possa ter quantidades adequadas de nutrientes, teor de água e a estrutura para desenvolvimento das raízes. Consequentemente, todos esses fatores refletem nos níveis de produtividade”, destacou.
Simone acrescentou que estes microrganismos são fundamentais na ciclagem de nutrientes. Ao degradar a matéria orgânica, eles aumentam a disponibilidade de nutrientes essenciais, que são absorvidos pelas plantas, promovendo seu crescimento e desenvolvimento. Além disso, os microrganismos ajudam na fixação de carbono, contribuindo para a remoção de dióxido de carbono da atmosfera.
Regulação do clima
De acordo com o professor Maurício Cherubin, também da Esalq, o solo também é responsável pela regulação do ciclo hidrológico, meio fundamental para a filtração e purificação da água. Dessa forma, beneficiam não só a produção agrícola, mas a própria manutenção da vida humana, regulando a emissão de gases e como local de armazenamento de carbono.
“Os solos têm papel fundamental para que seja possível desacelerar o processo de aquecimento global e mudanças climáticas, além de combater um dos maiores desafios da humanidade no século: a insegurança alimentar. Então um solo saudável, do ponto de vista químico, físico e biológico passa a ser um aliado importante da humanidade”, reforçou o especialista.
Degradação e manejo de solo
Estima-se que cerca de um terço dos solos do planeta Terra esteja degradado ou em algum grau de degradação e atividade humana é determinante para estes índices. O deslocamento do gado em áreas de pastoreio, por exemplo, pode causar danos profundos, levando à degradação de até 50% da funcionalidade do solo, causando alterações em processos fundamentais para o seu bom funcionamento.
Neste contexto, o manejo e a melhoria da saúde do solo no campo são prioritários para que a agropecuária continue produzindo e evitando prejuízos. A estratégia passa pela adoção de algumas práticas de manejo de agricultura conservacionista, aliadas a produtos e tecnologias disponíveis no mercado que podem acelerar e beneficiar os impactos dessas metodologias.
“Uma alternativa para a recuperação é isolar essas áreas da atividade desses animais, ou seja, isolar fisicamente, colocar cercas e separar essa área que já está bastante degradada pela presença desses animais, permitindo com que essa área se recupere. Quando essas metodologias são aplicadas, a recuperação é considerável, podendo chegar a índices parecidos aos da área antes de ser degradada”, detalhou Simone.
Cherubin adiantou que a Esalq vem investindo em uma estratégia de avaliação de saúde do solo com o Kit SOHMA, que utiliza sete indicadores físicos, químicos e biológicos para monitorar a saúde do solo.
“O kit inclui um passo a passo para execução no campo, acompanhado de um livro físico e um e-book. O usuário pode registrar os resultados e calcular um índice de saúde do solo, que varia de 0 a 1, em que 0 indica solo muito degradado e 1 representa máxima performance. O cálculo pode ser feito manualmente ou por meio de um QR Code, que envia automaticamente os resultados para o e-mail do usuário”, disse.
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