Até o final do século, calcula-se o que mais de um bilhão de vacas em todo o mundo possam enfrentar estresse térmico caso o aquecimento global continue sem controle, colocando em risco a fertilidade, a produção de leite e o bem-estar desses animais.
De acordo com a pesquisadora Michelle North, da Universidade de KwaZulu-Natal, na África do Sul, a tomada de decisões sobre a mudança no uso da terra é um fator chave na exposição das vacas a esse calor. As informações são da RFI.
“O desmatamento das florestas tropicais para expansão da pecuária não é um futuro viável em termos de desenvolvimento, pois isso agrava as mudanças climáticas e expõe centenas de milhões de animais a um grave estresse térmico”, disse ela.
Michele North é a principal autora do estudo, divulgado recentemente pela revista Environmental Research Letters, que mostra que quase oito em cada 10 vacas em todo o mundo já manifestam sinais de temperaturas corporais excessivamente elevadas, respiração acelerada, postura de cabeça baixa e ofegância – todos esses sintomas estão ligados a um estresse térmico grave.
Em climas tropicais, como o Brasil, 20% dos bovinos exibem esses sintomas durante todo o ano. Prevê-se que esses números aumentem caso a pecuária continue a expandir nas regiões das bacias amazônica e do Congo, onde as temperaturas estão previstas para subir mais rapidamente que a média global, conforme o estudo.
E se as emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento climático, continuarem a aumentar, o estudo prevê que o estresse térmico se torne um problema contínuo até 2100 no Brasil, sul da África, norte da Índia, norte da Austrália e América Central.
Cenário desastroso
O estudo concluiu que, no pior cenário, a criação de gado quase dobrará na Ásia e América Latina, e aumentará mais de quatro vezes na África.
As previsões indicam que estratégias de desenvolvimento que aumentem o número de gado na Índia e expandam a produção nas bacias do Congo e da Amazônia peruana e brasileira poderiam expor mais de 537 milhões de cabeças de gado a estresse térmico até 2090, em comparação com os números de 2010.
Ao contrário, se as emissões de gases de efeito estufa forem controladas adequadamente – principalmente reduzindo o uso de combustíveis fósseis e limitando a expansão da pecuária -, o número de animais afetados poderá ser reduzido pela metade na Ásia e em quatro quintos na África.
Pior para pequenos agricultores
O estresse térmico pode causar grandes prejuízos aos pecuaristas comerciais. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse problema já custa até US$ 1,7 bilhões por ano. No entanto, esses produtores costumam ter seguros, bons relacionamentos bancários e a capacidade de recorrer a empréstimos para se recuperarem de perdas relacionadas ao calor.
Porém, quando o calor ou outras catástrofes climáticas atingem pequenos agricultores, isso pode levar à perda completa de seus meios de subsistência, mesmo que as perdas aparentes possam parecer “insignificantes”.