Por André Garcia
Propriedade de 250 hectares no sul de Mato Grosso pode multiplicar seus lucros em até 13 vezes ao adotar práticas de agricultura regenerativa, segundo a Boston Consulting Group (BCG). Em estudo divulgado esta semana, a consultoria detalha o potencial econômico desse modelo no Cerrado brasileiro, bioma que abrange 39,6%.
Para isso, foram considerados três modelos de transição produtiva, chamados de arquétipos: recuperação de pastagens degradadas, conversão de pastagens em lavouras regenerativas e transição de lavouras convencionais para regenerativas. Cada caminho oferece diferentes resultados, custos e prazos de retorno financeiro.
“A eficiência de custos guiou a priorização, começando pela reforma de áreas moderadamente degradadas antes de abordar as severamente degradadas, sempre vinculada ao crescimento da demanda, deixando as demais áreas inalteradas”, explicam os pesquisadores em trecho do estudo.
Três caminhos para a lucratividade
Os modelos foram pensados para representar a realidade média de fazendas no Cerrado, e os dados foram cruzados com informações da Embrapa, Conab, Senar e IMEA. A metodologia considerou ainda o nível de degradação do solo, o tamanho da propriedade e o potencial produtivo da região.
No primeiro cenário, a recuperação de 250 hectares de pastagem degradada para pastagem regenerativa gera um aumento de 4,4 vezes no lucro líquido em cinco anos. A longo prazo, esse crescimento pode chegar a 8,3 vezes. O investimento necessário é de R$ 8,3 mil por hectare, com retorno entre sete e nove anos.
No segundo, a conversão da área em lavoura regenerativa oferece os melhores resultados. A renda do produtor pode subir 6,8 vezes em cinco anos e até 12,9 vezes no longo prazo. O investimento é maior, chegando a R$ 15,9 mil por hectare, com retorno estimado em cerca de dez anos.
Já na transição de lavouras convencionais para regenerativas, o ganho é de 2,3 vezes em cinco anos. Com um investimento bem mais baixo — R$ 1,5 mil por hectare —, o retorno ocorre entre quatro e cinco anos. A proposta inclui uso de bioinsumos, rotação de culturas e manejo eficiente de fertilizantes.
Produzir mais e desmatar menos
De acordo com a BCG, Mato Grosso está entre os estados com maior potencial para liderar essa transição, uma vez que o Cerrado abriga cerca de 14,4 milhões de hectares de pastagens degradadas com vocação para a agropecuária, sendo muitas delas localizadas no estado.
A adoção de práticas regenerativas poderia representar uma expansão equivalente a quase 30% da atual área de produção de grãos no Brasil — sem necessidade de novos desmatamentos. Isso tornaria o País mais competitivo e ambientalmente responsável.
A pesquisa ainda destaca que qualquer conversão de uso da terra deve ser acompanhada pelo aumento da produtividade da pecuária. Essa medida é considerada essencial para evitar pressão por novas áreas de abertura, especialmente em regiões de floresta e savana nativas.
Financiando a transição
Mesmo diante desses benefícios, o acesso ao crédito ainda é um desafio. Entre produtores do bioma entrevistados pela BCG, 33% apontam as altas taxas de juros como principal obstáculo, e 31% citam o medo do endividamento. Por isso, a oferta de crédito acessível será decisiva para viabilizar a transformação no campo.
À medida que as práticas regenerativas se consolidam nas propriedades, a transição tende a gerar fluxos de caixa positivos, impulsionando a rentabilidade dos produtores. Com solos mais saudáveis, menor dependência de insumos químicos e maior resiliência produtiva, as margens melhoram e tornam o modelo sustentável no longo prazo.
“Esse avanço só será possível se houver uma combinação estratégica de fontes de financiamento. A união entre crédito comercial, linhas subsidiadas e capital concessional ajuda a vencer as barreiras iniciais, reduzindo o risco dos investimentos e criando as condições para um modelo escalável de agricultura regenerativa no Cerrado.”
Nesse cenário, o crédito concessional e incentivado assume papel decisivo no engajamento dos produtores, especialmente os pequenos. É esse tipo de apoio que pode viabilizar a entrada no sistema regenerativo e garantir que os benefícios econômicos e ambientais cheguem a diferentes perfis de agricultores.
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