Como resposta ao “tarifaço” promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a China tarifou em 15% o valor de carne de frango, trigo, milho e algodão norte-americanos. Soja, sorgo e carne bovina foram sobretaxados em 10%. A tensão entre os dois países sinaliza bons negócios para o agro brasileiro, que deve fazer parte da nova demanda chinesa e também de outros países afetados pela política norte-americana.
A defasagem da produção pode se tornar um empecilho para isso. Foi o que explicou ao UOL a tributarista Priscila Ziada Camargo Fernandes, especializada em recuperação de ativos no setor agro. Segundo ela, os setores com chance de maior crescimento são os de algodão, milho, soja e carnes. Contudo, a tensão entre norte-americanos e chineses ainda precisa ser acompanhada e aguardar o término da colheita da safra.
“Sem dúvida, deve haver um impacto positivo do ponto de vista de preço, porque a depender, [a importação chinesa] deve deprimir os preços de commodities nos Estados Unidos e fortalecer os do Brasil”, apontou.
Já a gerente de exportação para a Ásia da Ramax Group, Mariana Inocente Guimarães, destacou que no mercado chinês a carne bovina brasileira não compete com a americana, mas ainda assim há possibilidade de alta. Enquanto a do Brasil é usada para a industrialização, a dos EUA serve restaurantes, hotéis e supermercados
“É diferente o nicho de cada carne [americana e brasileira], porém a gente vai ver uma diminuição no volume. Com certeza vai aumentar a procura dos chineses pela carne bovina brasileira”, diz Guimarães.
Porém, a gerente destaca que, com a diminuição de ofertas de carnes americanas, a procura por porco e frango vai ser ainda maior, o que pode beneficiar empresas brasileiras.
Expectativa e desafios
Para Guimarães, apesar das oportunidades, a pecuária no Brasil ainda não é tão competitiva no mercado internacional chinês quanto outras commodities agrícolas. Por conta das limitações do setor, hoje apenas 30% da produção nacional bovina é destinada à exportação.
“O maior desafio é ter animais disponíveis dentro da qualificação chinesa, que são bovinos até 30 meses prontos para o abate”, afirma.
Além disso, o equilíbrio entre o preço do boi e o preço da carne também é um ponto crítico, já que tanto os produtores quanto a indústria têm visto suas margens diminuírem. Outro fator que preocupa o setor é a redução do rebanho bovino, impulsionada pela substituição de pastagens por outros plantios mais rentáveis.
“Hoje em dia, você vê pouquíssimas fazendas de cria de bovinos, porque as pessoas preferem colocar outras culturas nesse espaço”, acrescenta ela.
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