Por André Garcia
Pecuária no Pantanal, extrativismo na Amazônia e agricultura no Cerrado são só alguns dos exemplos de como o agronegócio vem colocando a fauna e a flora brasileiras a seu favor ao longo das décadas. A expertise pode fazer com que o setor lidere estratégias para ampliar as possibilidades de negócios sustentáveis, convertendo a biodiversidade em ativo financeiro e impulsionando o crescimento do Brasil.
Nesta segunda-feira, 22/5, Dia Internacional da Diversidade Biológica, o Gigante 163 mostra alguns exemplos de como a conversação da biodiversidade se converte em ganhos em diferentes áreas do agro.
A startup de reflorestamento Belterra enxergou potencial nas regiões de Alta Floresta, Carlinda e Paranaíta, em Mato Grosso, onde vai investir na produção de cacau e, de quebra, restaurar 1.000 hectares de áreas degradadas. Recentemente, seu CEO Valmir Ortega contou à reportagem, que isso será possível graças a implantação de sistemas agroflorestais, que misturam as árvores da fruta com outras culturas e vegetação nativa.
“Não estamos falando de monocultura de cacau. Haverá um conjunto de outras espécies, como mandioca, banana e milho. Isso tudo, pensando tanto na comercialização e geração de renda, quanto no papel que estas plantas exercem na recuperação do solo”, disse.
No equilíbrio entre a fauna e flora também há oportunidade para os produtores de mel em Mato Grosso, que ocupa atualmente o 14º lugar no ranking nacional com a produção anual de 466 toneladas. O número poderia ser muito mais alto, já que o Estado, mesmo com uma vegetação formada por três biomas ricos em espécies que contribuem de forma direta para a apicultura, explora apenas 0,3% de seu potencial apícola.
De acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), em Mato Grosso o clima é favorável propicia produção durante todo o ano. De modo geral, uma colmeia resulta em média em 30 quilos de mel por ano. Na região do Pantanal, contudo, a quantidade quase duplicou, atingindo uma média de 50 quilos de mel/ano.
Isso lembra que a biodiversidade tem importância interespecífica (entre as espécies). Ou seja, o desmatamento e as queimadas afetam o ciclo de cada uma delas nos biomas, prejudicando, por exemplo, os controladores naturais de pragas. É a partir desta lógica que agem os bioinsumos, que apresentaram salto de 67% nas vendas no ano passado.
Os produtos são uma alternativa para a redução do uso de agrotóxicos e pesticidas. Com base no controle biológico e na fixação de nitrogênio no solo, eles barateiam a produção garantindo, a partir de tecnologias sustentáveis, eficiência no controle de pragas e na fertilização. É o que explica o engenheiro agrônomo e especialista em Agroecologia e Produção Orgânica da Empaer, Rogério Leschewitz.
“Os biofertilizantes, que a agroecologia já fabrica há muito tempo, agora estão entrando com força também na agricultura convencional. Esta é uma grande oportunidade para o produtor. Em comparação com os agrotóxicos, que tem esse grande problema dos resíduos refletido tanto no produto quanto no meio ambiente, onde ele é despejado, eles são muito melhores”, afirma.
Adotada por grandes produtores, a mesma técnica também é utilizada por agricultores familiares do projeto Sinop Orgânico, que ajudam a abastecer uma das principais produtoras de grãos do país com alimentos básicos. Por meio da agroecologia, eles apostam na transição para a produção orgânica para alcançar incremento de até 30% nos lucros.
Os pecuaristas José Leandro Olivi Peres e seu pai José Peres, da Fazenda Pontal, em Nova Guarita, também são um caso de sucesso quando se fala em conservação. Com base na adoção da integração lavoura-pecuária (ILP) e na maior oferta de forragem durante o período seco do ano, a taxa de lotação de até três unidades animal por hectare (UA/ha), enquanto a média brasileira é de cerca de 0,5 UA/ha.
Indústria é aliada
Bebendo da fonte de matérias primas e insumos para a produção de alimentos, remédios, vacinas, biocombustíveis, a indústria será uma aliada indispensável nesta missão. Dados da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) mostram que o faturamento da indústria nacional pode ter um acréscimo de US$ 284 bilhões ao ano se o país investir em tecnologias inovadoras.
O desenvolvimento de biocombustíveis, plástico verde e outros bens de alto valor agregado, como tecidos, fertilizantes e aditivos químicos são algumas das possibilidades. Além disso, a produção de bioenergia tem forte interação com inovações nos setores da agricultura, da silvicultura e de gestão de resíduos, uma vez que se busca uma oferta sustentável de biomassa.
A atenção sobre as mais de 116.000 espécies animais e mais de 46.000 espécies vegetais conhecidas no país também deve impactar o mercado de trabalho. Segundo o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, estudo divulgado pelo Senai, a área de Meio Ambiente é a segunda com maior projeção de crescimento no número de vagas nos próximos anos: 16% – fica atrás apenas de Logística e Transportes, com 47% das ocupações industriais.
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