O agronegócio brasileiro avançou em práticas sustentáveis, mas ainda tem desafios a superar para aproveitar todo o potencial do setor no cenário global. É o que avalia Rodrigo Lima, diretor da consultoria Agroicone, ao apontar que, embora o setor esteja mais consciente da importância da sustentabilidade, a visão ainda é limitada ao conceito de “desmatar ou não desmatar”.
Em entrevista ao Globo Rural, Lima, que participou das conferências de biodiversidade (COP16), na Colômbia, e de clima (COP29), no Azerbaijão, lembra que o agro brasileiro já adotou diversas práticas que promovem a sustentabilidade, como a recuperação de solos, o uso de bioinsumos e o manejo integrado de pragas, além de tecnologias que maximizam a produtividade sem necessidade de abrir novas áreas. Mas, ainda há muito o que melhorar, especialmente na implementação do Código Florestal, que traz requisitos rigorosos de conservação da vegetação nativa.
“O Código diferencia muito a produção brasileira, mas o setor precisa avançar na implantação. Estamos muito apegados a provar se desmatamos ou não desmatamos e deixamos de lado outras dimensões do desenvolvimento sustentável”, avaliou.
Para avançar, ele defende que é essencial demonstrar resultados concretos. Ele citou que 141 países incluíram ações climáticas ligadas à agricultura em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No entanto, a falta de clareza nas metas dificulta comparações. Quando as ações forem mais uniformes, ficará evidente que iniciativas como a recuperação de solos, base da agricultura regenerativa, serão prioritárias no combate às mudanças climáticas.
“Falar de desenvolvimento sustentável não é uma agenda ambientalista. É tecnologia, trabalho qualificado, inovação, novos empregos e negócios”, afirmou.
Segundo o especialista, demonstrar atributos sustentáveis é essencial para acessar mercados internacionais, onde as exigências ambientais crescem continuamente. Ele destacou que produtores que investem em solos férteis e práticas de manejo sustentável têm melhores condições de acessar financiamentos e assistência técnica, mas lamentou a falta de visibilidade das ações já realizadas pelo setor.
“Não fazer isso é desperdiçar um grande ativo para qualificar ainda mais a produção brasileira. O problema é que o produtor espera um bônus ou prêmio, mas a questão é: quem vai pagar?”, questionou.
Visão simplista
Para dar força a este movimento é preciso que o setor se liberte de uma visão considerada simplista, que associa a agropecuária diretamente ao desmatamento.
“O problema é que muita gente pega as emissões de uso da terra e as emissões agropecuárias e soma. Dá que 75% das emissões vêm do agro, dos sistemas alimentares. E no cenário das narrativas, os dados fluem de um jeito que não se consegue controlar. Existe agropecuária desmatando? Sim. O principal problema é a agropecuária? Não. É muito simplista achar um culpado pelo desmatamento e fingir que está cuidando do problema”, disse.
É aí que o Governo Federal deve entrar em ação, especialmente em relação à falta de titulação de terra e na avaliação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) avaliado.
“Se o governo não validar o CAR, não vai adiantar ter feito. O governo tem que ser capaz de separar o desmatamento legal do ilegal. E, no desmatamento legal, achar formas de pagar (por serviços ambientais). O ilegal tem que acabar. Não tem o que discutir.”
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