Lideranças do agronegócio brasileiro apostam na abertura de uma janela de negociações técnicas com as autoridades da União Europeia a respeito da lei antidesmatamento. A expectativa é minimizar os impactos das novas exigências sobre as exportações do agro ao mercado europeu, após encontro que alguns representantes do setor privado nacional tiveram na semana passada com Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, em Brasília
A diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Andrade, esteve em uma das reuniões de empresários com Timmermans. Ela explicou ao jornal que o vice-presidente da Comissão Europeia se dispôs a enviar autoridades do bloco ao Brasil para detalhar as exigências da lei. Com isso, os exportadores poderão comprovar que seus produtos não são provenientes de áreas desmatadas a partir de 2021, legal ou ilegalmente.
“Temos que correr. Se tem um momento para sentar na mesa, é agora”, resumiu ela.
A principal preocupação do setor privado é que o País ou estados e municípios sejam classificados como de “alto risco”. Isso automaticamente aumentará as exigências de comprovação de rastreabilidade sobre as origens dos alimentos e deixará os importadores europeus com o ônus do risco pelo produto que comprarem.
“O importador não vai comprar de um país ‘high risk’, porque o risco estará com ele. No médio prazo, pode acontecer um desvio do comércio. Se os importadores tiverem a opção de comprar de um país de baixo risco, eles vão seguir esse caminho”, disse Sueme.
As duas cadeias de agropecuária brasileira mais expostas às demandas europeias são as de café e soja. No ano passado, os países da UE foram o destino de 51% das exportações de café brasileiro e de 15% dos embarques do “complexo soja”, que inclui grão, farelo e óleo.
Ações concretas
O Brasil terá que apresentar evoluções ambientais concretas para garantir diálogo com os europeus. Essa é aposta de autoridades diplomáticas e empresários.
“Se conseguirmos baixar as taxas de desmatamento, vamos ter uma posição muito melhor para negociar com europeus e outros importadores”, explicou Túlio Dias, diretor de sustentabilidade da Agropalma.
O governo federal também deverá favorecer as negociações, acredita Ingo Melchers, diretor do Diálogo Agropolítico Brasil-Alemanha (APD), órgão ligado aos governos dos dois países.
“Se o desmatamento tivesse diminuído, talvez a lei da UE tivesse sido diferente da de hoje. Parece que hoje tem um ambiente político muito mais favorável do que no passado”, concluiu Melchers.