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Agroindústria de castanha traz avanços a extrativistas em Cotriguaçu

Agroindústria de castanha traz avanços a extrativistas em CotriguaçuAmêndoa sendo removida da casca. Foto: REM/MT

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Cada vez mais consumida mundo afora, a castanha do Brasil tem seu valor reconhecido tanto como fonte nutricional, quanto como matéria-prima na indústria dos cosméticos. Pensando em se tornar cada vez mais protagonista dessa cadeia produtiva, a Associação de Coletores de Castanha do Brasil do PA Juruena (ACCPAJ), de Cotriguaçu (952 km de Cuiabá), quer participar do beneficiamento da castanha amazônica por meio de uma agroindústria.

Antes de chegar às prateleiras, o produto percorre um longo caminho, que não deixa de ser marcado por dificuldades. É preciso adentrar na floresta amazônica – onde a castanheira é abundante -, e recolher os “ouriços”, uma espécie de cápsula que armazena as castanhas, que caem de uma altura de até 50 metros.

Para evitar acidentes, além de usar capacetes, os coletores precisam também esperar os ouriços caírem para poder fazer a colheita.

São esses percalços que o agricultor e presidente da ACCPAJ, Silvio José Bragança de Souza, detalha. Segundo conta, os coletores ficam de 5 a 6 meses em um acampamento no meio da floresta, colhendo os frutos.

Por tamanho esforço e dedicação, a associação tem o intuito de ingressar no beneficiamento da castanha, para fugir dos atravessadores – negociantes que se colocam entre o produtor e comerciante varejista.

No caminho da agroindústria

Para ajudar na construção de uma agroindústria, a ACCPAJ se inscreveu no edital do Subprograma de Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCT), do Programa REM MT. Com isso, eles conseguiram comprar vários equipamentos.

“A esperança é grande de quanto antes começar a beneficiar, para gente sair das garras dos atravessadores, que estão aí só explorando cada dia mais os coletores. Foi buscando melhorias para esses coletores, que a gente se inscreveu para esse edital, com os pedidos desses equipamentos para sairmos fora dos atravessadores e a renda ficar no município e poder ajudar mais as famílias envolvidas”, aponta Silvio.

Um dos sócios da ACCPAJ e coordenador do programa, o jovem Lúcio Lima Lauro relata que seus pais sempre tiveram sítio na região de Cotriguaçu, onde plantavam café, milho e feijão. Até que surgiu a oportunidade de trabalhar com a castanha.

Com 15 anos, Lúcio já lidava com o castanhal. Com isso, pôde ver desde cedo como o produto era desvalorizado. Conforme conta, nessa época, o quilo era vendido a R$ 2. “Mas, acho que lá atrás chegou a ser mais barato ainda”, observa.

As máquinas adquiridas – caldeiras, secadores e mais – vão ajudar no beneficiamento da castanha do Brasil para os associados.

“Hoje em dia a gente vende a castanha in natura, na casca, sem beneficiar. E com as máquinas que agora nós compramos, vamos poder beneficiar a castanha, e conseguir um valor melhor no nosso produto”, conta Lúcio.

O quilo da castanha é vendido agora por R$ 6,50.

“Não vamos precisar continuar como a gente faz, que vendemos para alguém. A pessoa compra aqui e vende para alguém que vai beneficiar, que ainda passa para frente [mercado]. Nosso planejamento é ir para frente, para a pessoa que vai consumir, o mercado local. Vamos pular essa parte que os atravessadores ganham dinheiro em cima da gente”, explica Lúcio sobre os elos da cadeia produtiva.

Renda e preservação ambiental

Ao todo, 42 sócios estão efetivados na ACCPAJ. O objetivo dos associados é que o extrativismo sustentável da castanha seja uma forma de contribuir com a conservação da floresta, geração de trabalho e renda, fortalecimento comunitário e abertura de novos mercados.

“A importância é muito grande, em relação aos nossos problemas de aquecimento global, que hoje é um problema grave para o mundo todo. Essa atividade [extrativismo] que a gente faz acaba ajudando a inibir um pouco o pensamento das pessoas de estar desmatando, criando uma renda para as pessoas que estão nas comunidades”, afirma Silvio.

Durante visita na sede da ACCPAJ, o engenheiro agrônomo e coordenador do Subprograma de Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCTs), Marcos Balbino, observou que a associação reorganizou a forma de trabalhar, para que o produto se torne mais favorável aos coletores.

“Eles estão cansados de trabalhar muito e não receber um valor à altura do seu trabalho. Esse desequilíbrio na cadeia é desestimulante. Então, a ideia do projeto é conseguir beneficiar a castanha, porque conseguem acessar mercados diferenciados, que pagam mais. E com o sonho mais distante, o sonho da exportação”, relata.

Fonte: REM-MT