A disputa pela presidência dos Estados Unidos entre Kamala Harris e Donald Trump vem sendo um dos assuntos mais comentados do momento e os resultados das eleições podem impactar a balança comercial do agro global, e os desdobramentos afetarão, direta ou indiretamente, o Brasil. Nos EUA, Harris e Trump concorrem de forma acirrada no setor agropecuário debatendo assuntos como barreiras tarifárias, protecionismo na produção, sustentabilidade e mudanças climáticas, além de futuro do comércio e das exportações. As informações são do Globo Rural.
A desaceleração da demanda chinesa por produtos agrícolas norte-americanos abre novas oportunidades para o Brasil, que já é o maior fornecedor de soja e milho para a China. A gestão dessa parceria e a possibilidade de sanções à China são desafios para os candidatos.
As tensões comerciais entre os EUA e a China, que começou no governo de Trump, com a imposição de tarifas sobre produtos agrícolas americanos, impulsionaram o Brasil a se tornar o maior fornecedor de soja para a China, que buscava alternativas aos produtos norte-americanos.
O Brasil domina o mercado asiático de soja, com mais de 70% das importações asiáticas tendo origem no país. A desvalorização do real e investimentos em infraestrutura impulsionaram essa liderança, com a China sendo o principal destino da soja brasileira.
O que dizem os analistas
A S&P Global Commodities Insights avaliou as principais propostas dos candidatos para o agronegócio. Kamala Harris tenta flertar com a economia rural, buscando mobilizar os eleitores rurais em estados-chave como a Geórgia e a Pensilvânia. Já a agroindústria e associações de produtores de grãos e pecuaristas defendem o retorno de Trump à presidência.
“Emissões líquidas zero até 2050 com agricultura inteligente para o clima com ênfase em bioenergia, aumento na produção de biocombustíveis com apoio da IRA (Lei de Redução da Inflação) e investimentos para fortalecer a resiliência da cadeia de suprimentos” são algumas das propostas destacadas pelo relatório da S&P.
EUA e o mundo
A disputa entre Harris e Trump coloca o setor agropecuário dos EUA em “um ponto de inflexão” entre expansão sustentável e competitividade baseada na desregulamentação, revelaram analistas de cooperativas norte-americanas e institutos de pesquisa agrícola.
O Brasil ainda depende da delimitação de algumas políticas. Esse ano, por exemplo, o país passou os Estados Unidos no ranking de exportação de algodão, tornando-se o maior comercializador da pluma. Também lidera a produção e exportação de soja, posição o país norte-americano ocupou por anos seguidos.
As projeções de exportação agrícola dos EUA para a safra 2024/25 estão em alta, segundo a S&P. Contudo, a instabilidade nas relações comerciais entre os EUA e a China, marcada por tarifas e políticas protecionistas, gera incertezas sobre o futuro das exportações americanas para o gigante asiático.
A China é um dos principais destinos da soja e do milho norte-americanos, com participação de 52,45% e 4,83% nas exportações desses produtos, respectivamente, em 2023/24.
“Fontes do mercado esperam que o retorno de Trump ao cargo possa trazer de volta tarifas e, eventualmente, contra-tarifas da China, o que poderia ter um grande impacto no comércio agrícola entre os dois países”, revelou o relatório.
A campanha da democrata também ressoou um tom semelhante ao defender a diversificação dos mercados de exportação dos EUA e combater “práticas comerciais desleais da China ou de qualquer concorrente”.
Em resposta, Pequim tem se voltado para a América do Sul nos últimos anos, numa tentativa de reduzir sua dependência das importações americanas, com o Brasil emergindo como o maior fornecedor de milho e soja no ano comercial de 2023/24.