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Atrelado a violência e contaminação, garimpo é ameaça ao agro em MT

Atrelado a violência e contaminação, garimpo é ameaça ao agro em MTImagens contrastam com riqueza produzida pelo agro. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

As imagens chocantes de indígenas Yanomami desnutridos e de grandes áreas de florestas devastadas pelo garimpo em Roraima acendem um alerta para o agronegócio de Mato Grosso. No Estado, onde tem origem a maior parte do ouro com graves indícios de irregularidades comercializado no Brasil, a extração mineral pode, além de colocar fim à recursos imprescindíveis para a agricultura, prejudicar acordos internacionais.

De acordo com o Instituto Escolhas, que sistematiza estudos sobre mineração e uso da terra, em 2021, 52,8 toneladas de ouro comercializadas no Brasil tinham graves indícios de ilegalidade, o que corresponde a mais da metade (54%) da produção nacional. Deste total, quase dois terços (61%) foram extraídos da Amazônia, sendo Mato Grosso o Estado com o maior registro: 16 toneladas.

Os números mostram o avanço do garimpo ilegal, o que expõe duas ameaças principais ao agro. A primeira diz respeito à contaminação de rios e nascentes pelo uso do mercúrio, o que pode matar lavouras e adoecer animais, como já alertou o Gigante 163 aqui. A segundo é a associação da atividade com o desmatamento, à ilegalidade, a corrupção, a criminalidade e a intensa presença de milícias e facções do crime organizado, especialmente na região amazônica, o que também prejudica o setor.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 10 das 30 cidades mais violentas do país estão na Amazônia, sendo uma delas, Aripuanã, em Mato Grosso. Do ponto de vista da captação de recursos para o desenvolvimento da agropecuária, assunto amplamente abordado nos últimos meses pelo Governo do Estado, Mauro Mendes, nada pode ser pior que isso.

Uma fala do presidente da Urihi Associação Yanomami, Júnior Hekurari Yanomami, à Agência Brasil ajuda a entender a associação entre a atividade e o crime. De acordo com ele, garimpeiros circulam pela região sem esboçar nenhum temor, com armas como submetralhadoras.

“A gente vive nas nossas comunidades, nas nossas casas, com medo, porque os garimpeiros ameaçam as lideranças, dizendo que essa terra tem dono, que quem manda aqui é [Jair] Bolsonaro”, relata.

Como já noticiado pelo Gigante 163, o quadro de violência somado à crise humanitária faz com que empresas deixem de investir no bioma por questões de reputação, especialmente considerando a nova era economia verde, que tem critérios ESG (Meio ambiente, social e governança – em tradução do inglês) muito mais rígidos.

Além do mais, considerando que os indígenas são reconhecidos internacionalmente como os maiores responsáveis por manter a floresta preservada, graças ao seu modo de vida, a defesa de suas terras pode ser encarada pelo setor como ativo econômico, uma vez que a reputação do País nesse quesito interfere na balança comercial.

Exemplo disso é a recente aprovação pela União Europeia (EU) da lei sobre importação de produtos com risco florestal (FERC – Forest and ecosystem-risk commodities). Embora tenha negado a inclusão de direitos internacionais dos povos indígenas neste primeiro momento, o Parlamento Europeu não descartou a possibilidade de inserir a questão nas próximas revisões da Lei, que está em período de transição.

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