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Bancos brasileiros concederam US$ 188 bi para empresas que desmatam

Bancos brasileiros concederam US$ 188 bi para empresas que desmatamCompromissos éticos não impedem empresas de participarem da destruição. Foto: WWF

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Por André Garcia

O relatório “Financiando o Colapso da Biodiversidade”, divulgado na semana passada. mostra que entre 2016 e junho de 2024, bancos brasileiros concederam US$ 188 bilhões a empresas associadas ao risco de desmatamento. Só nos últimos 18 meses, US$ 35 bilhões foram fornecidos pelos três maiores bancos do país: Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco.

O levantamento, realizado pela Coalizão Florestas e Finanças, iniciativa que reúne dez organizações internacionais da sociedade civil, mostra que o programa de Crédito Rural brasileiro foi fundamental para o avanço de setores que destroem a biodiversidade. Entre 2016 e 2023, houve um aumento de US$ 10,7 bilhões para o setor de soja e US$ 9,8 bilhões para o setor de carne bovina.

Os investimentos no setor vêm aumentando por meio de instrumentos financeiros como Fiagros, CRAs, e LCAs, produtos de investimento que são vendidos a investidores privados e que praticamente não possuem critérios socioambientais associados. Para se ter ideia, em julho de 2024, estes instrumentos financeiros destinaram ao setor agrícola US$ 187 bilhões, a maior parte sem critérios socioambientais associados.

Exemplo disso é que, enquanto incêndios florestais devastam a Amazônia durante uma das piores temporadas de queimadas já registradas, a JBS, maior empresa de processamento de carne do mundo, contribuiu para a destruição de terras indígenas na região, apoiada por US$ 1,1 bilhão em crédito dos bancos. Isso porque, a empresa possui uma série de compromissos para práticas éticas.

Compromisso de fachada

Esta é apenas uma das evidências de que os programas de sustentabilidade dos bancos estão falhando. Mais da metade dos 30 maiores bancos com risco de desmatamento florestal do mundo são membros de pelo menos uma iniciativa de sustentabilidade, como os Princípios para a Responsiabilidade Bancária (UNPRB), a Aliança Bancária por Zero Emissões Líquidas (NZBA) e a Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD).

No entanto, tais compromissos não impediram a continuidade do financiamento para a destruição das florestas e as violações de direitos humanos. Sistemas de certificação como o Forest Stewardship Council (FSC) e a Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO) também não conseguiram evitar o desmatamento nem proteger os direitos humanos.

“Bancos e investidores que dependem de esquemas de certificação falhos, como o FSC e a RSPO, são cúmplices do greenwashing e contribuem para as crises climática, de biodiversidade e de direitos humanos. As instituições financeiras devem assumir a responsabilidade pelos impactos de seus financiamentos e conduzir rigorosa diligência e verificação independente do cumprimento das políticas ambientais e sociais de seus clientes”, disse Jeff Conant, Gerente Sênior do Programa Internacional da ONG Friends of the Earth U.S.

Políticas públicas

Em todo o mundo, grandes bancos destinaram mais de US$ 395 bilhões em crédito para setores que impulsionam a destruição de florestas tropicais e promovem violações de direitos humanos desde a adoção do Acordo de Paris. Deste total, 72% foi proveniente de bancos brasileiros, o que mostra que a governança das cadeias produtivas de commodities aqui ainda é muito frágil.

“Sem mudanças regulatórias que imponham requisitos socioambientais mais rígidos e a responsabilização dos financiadores, o setor financeiro brasileiro continuará impulsionando a destruição das florestas e colocando em risco as metas de biodiversidade” disse Tarcísio Feitosa – articulador da Coalizão Florestas e Finanças para o Brasil.

Sendo assim, do ponto de vista da política pública, o País precisa de marcos legais nacionais e internacionais mais fortes, evitando o financiamento de projetos predatórios.

“Como as regiões mais biodiversas do mundo estão à beira do colapso ecológico, o papel do setor financeiro em perpetuar a destruição ambiental não pode ser ignorado. Iniciativas voluntárias como os Princípios para a Responsabilidade Bancária são apenas greenwashing, e é hora de os governos intervirem”, concluiu Merel van der Mark, coordenadora global da Coalizão.

 

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