Por André Garcia
Ao aliar produção, rentabilidade e redução de gases do efeito estufa, a geração de energia a partir de dejetos de suínos pode ser a fórmula da resiliência em momentos de crise no setor, como a experienciada ao longo dos últimos anos. É o que contou ao Gigante 163 o presidente do Fórum Mato-grossense da Agropecuária, Itamar Canossa.
“O dejeto, que sempre foi o principal problema da suinocultura, se tornou atrativo. Em períodos de crise a geração de bioenergia e de fertilizantes pode ajudar a evitar o prejuízo, já que produzir a própria energia é outra fonte de renda, às vezes maior que a da própria carne”, explicou ele, que também é proprietário da granja Canossa, em Sorriso (280 km de Cuiabá).
Lá, a fórmula foi crucial especialmente a partir de 2021, quando o excedente de carne suína no mercado interno em 2021 foi piorado pela perda de poder aquisitivo da população brasileira, além do aumento no custo de produção. Isso tudo acabou acarretando o início de uma crise da suinocultura, que começou a se reerguer em 2023.
“O que se produz em energia elétrica, em termos monetários, é o equivalente para mim tirar o custo de mão de obra da granja e ainda o que eu vendo de energia, soma-se a esse valor, suficiente para despesas dentro da granja”, diz.
Além do mais, a partir da adoção desta prática sustentável, o setor pode passar a contar com a agregação de valor aos produtos. De olho nisso, a Associação Sul-mato-grossense de Suinocultores lançou o Programa Asumas de Sustentabilidade (PAS), uma iniciativa voltada a melhorias no desempenho ambiental econômico e social da cadeia.
“É o que queremos para o Estado. Que este produto final da suinocultura de MS consiga agregar vaalor com sustentabilidade, o mercado reconheça que esta carne tem que ter remuneração diferenciada”, disse o secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Jaime Verruck.
Para tanto, a estratégia foi transformada em uma política pública que prevê, dentre outros, a monetização de subprodutos da atividade suinícola como a produção de fertilizantes especiais, comercialização de energia e de créditos no mercado de carbono.
De acordo com a Asumas, o Brasil tem um potencial para gerar mais de 2,8 milhões de m³ de biogás por dia, além de sequestrar cerca de 9 milhões de toneladas de carbono equivalente. Para Itamar, os números representam oportunidade de desenvolvimento não só para o setor, para toda a sociedade.
“Nosso setor é um dos que trabalham de forma mais rigorosa, visando manter a qualidade e a higiene, adotando sempre boas práticas de produção. Isso é fundamental, porque a carne suína é a mais consumida no munda. Desta forma, a cadeia também cumpre com sua função social de gerar emprego”, completa Itamar.
Implantação
Um sistema de tratamento de dejetos suínos inova ao combinar processos biológicos e químicos para remover conjuntamente carbono, nitrogênio e fósforo, gerando água que pode ser reutilizada, energia elétrica e fósforo fertilizante.
Segundo a Embrapa, o processo pode ser aplicado de maneira modular e adicional, de acordo com as necessidades de tratamento e as condições da propriedade.
Com relação à instalação de motores para geração de energia, Itamar explica que uma granja com mil matrizes, ou seja, com mil fêmeas produtoras, é capaz de manter 100 casas de famílias de médio padrão, o que significa uma economia aproximada de R$ 500 por residência.
“Um investimento de 500 mil reais se viabiliza em seis meses. Desconheço investimento que se pague tão rápido. Além disso, hoje há linhas de crédito com juros reduzidos para a implantação dos geradores”, conclui.
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