Por André Garcia
O Plano Safra 2023/24 saiu com foco na agricultura de baixo carbono. Como já mostrado pelo Gigante 163, o Brasil pode se beneficiar muito por ano a partir da adoção de estratégias para a produção agropecuária carbono zero, o que inclui, por exemplo, a recuperação de áreas degradadas. O País pode receber investimentos entre US$ 14 bilhões e US$ 20 bilhões e pode agregar anualmente ao PIB nacional montantes entre US$ 40 bilhões e US$ 60 bilhões por ano país
Especialistas apontam que as oportunidades de negócios aqui são superiores às de qualquer outro país. Conforme temos publicado, as perspectivas se repetem entre pesquisadores e empresários e tem se embasado políticas do governo.
Um estudo do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), por exemplo, mostra que a restauração otimizada de apenas 10% da área degradada da Amazônia é capaz de gerar uma receita de até R$ 132 bilhões.
Mas, para atingir tais cifras, é preciso incentivar o desenvolvimento da agricultura de baixo carbono, especialmente em regiões como a Amazônia e o Cerrado. É o que se espera como o lançamento do Plano Safra, principalmente por ser o agronegócio o setor chave para o desenvolvimento sustentável nacional.
Emissões
Estudos mostram que a pecuária brasileira pode mitigar, até 2030, 215 megatoneladas emissões de carbono. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2030 o consumo médio global per capita deverá aumentar 14,2%. Hoje, é de 34,1 kg, chegando a 60 kg no conjunto dos países desenvolvidos.
Hoje, 50% das emissões brasileiras de gases de efeito-estufa são resultantes do desmatamento e do corte da floresta na Amazônia, os outros 25% estão associados à agricultura e à pecuária.
Diálogo entre setores
Para fazer frente à expansão da demanda global de alimentos de forma sustentável, será preciso dialogar com o setor florestal e o de produção de alimentos. A transição verde prevê mudança do uso da terra, envolvendo produtores e gerando renda e oportunidade de crescimento.
É o que observa Alessandra Fajardo, da Bayer, ao lembrar que, para cada hectare plantado hoje no Brasil, há cerca de três hectares abandonados em regiões potencialmente férteis. Para ela, o aumento da produção demanda preservação.
“Não precisamos mais de área para produção. Precisamos produzir mais nas áreas já disponíveis”, pontua.
Caminho para a sustentabilidade
Fundadora da Preta Terra, Paula Terra avalia que o carbono é a ponta do iceberg, o protótipo do pagamento por serviços ambientais. Diante disso, ela cita técnicas ainda pouco utilizadas na produção agropecuária sustentável que podem ser expandidas para restauração.
“Essa realidade é uma oportunidade para o Brasil. Podemos recuperar áreas degradadas com agricultura regenerativa, recuperando essas áreas por meio da produção de grãos, pecuária ou sistemas agroflorestais.”
Já a diretora do Instituto Arapyaú, Renata Piazzon, considera que um dos principais incentivos para avançar na cultura sustentável está no potencial das redes e na articulação entre poder público, privado e sociedade civil em torno de uma transformação sistêmica.
Ou seja, estratégia integrada, que busca convergência entre a agenda agro e ambiental. A seu ver, não se pode falar em desmatamento sem falar em desenvolvimento que promova a transformação do território. Ou seja, não dá para falar de alternativas econômicas que mantenham a floresta em pé sem qualidade de vida para a população.
“Das 4,5 mil comunidades indígenas e quilombolas da Amazônia, só uma tem conectividade. Isso dificulta a disseminação da tecnologia de baixo carbono. Temos que olhar para as 30 milhões de pessoas que lá vivem. O desafio é promover alternativas que conciliem o capital natural com a dignidade das pessoas que vivem na região”, conclui.
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