Por André Garcia
A combinação de onda de calor, bloqueio de nuvens, El Niño e mudanças climáticas criou cenários desoladores no campo. Especialmente entre os produtores de soja, que que já lidam com atrasos e perdas de lavouras decorrentes da estiagem e do calor excessivo, a expectativa é de que o ciclo 2023/2024 seja marcado por uma super quebra de safra. O resultado será falta de dinheiro circulando no mercado e prejuízo para toda a economia.
A constatação é da equipe do MT Clima e Mercado da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), que está em expedição por 30 municípios do Estado líder na produção agrícola nacional.
“Tem muita planta morta. Então, já no início o da expedição a gente percebe o impacto dessa estiagem. A rentabilidade da economia do Estado vai quebrar. Esse dinheiro vai deixar de circular no mercado. Vai faltar na farmácia, no dentista, na oficina, na padaria. É um grande prejuízo para o Estado e para o Brasil, que vai refletir diretamente na balança comercial”, alerta o gerente de relacionamento da Aprosoja-MT,
Evandro Carmo Thiesen.
Em Cuiabá, nas primeiras áreas de plantio, logo depois da Chapada dos Guimarães, a área onde nesta época do ano deveria haver uma soja com 35 a 40 dias, já com linha fechada e completamente estabelecida, o que se viu foi uma lavoura plantada bem tardia, com uns 15 dias de germinação e solo extremamente seco. Ou seja, mesmo nesta região, que tem bom histórico de chuva e umidade, os efeitos da crise climática são severos.
“Muito diferente, com clima extremamente seco, onde que alguns bolsões de chuva tem acontecido. São microrregiões onde tem chovido melhor, mas a maior parte do Estado está seca. Estamos com a soja já em R2, em floração plena. Algumas plantas estão com 25 cm quando já deveriam ter até 60 centímetros”, diz o coordenador da comissão de defesa agrícola da entidade, Fernando Ferri, ao classificar o ano como adverso.
O reflexo disso é percebido com a queda do potencial produtivo. A planta perde área de engalhamento, área de floração, as vagens ficam muito próximas ao chão, resultando em perdas na colheita. Especificamente onde a soja foi plantada mais cedo, será garantida a janela ideal do milho, mas com baixa produtividade da oleaginosa, que, segundo a Aprosoja-MT, apresentará capacidade de produção de 30 a 50 sacas, dependendo do clima.
Realidades distintas
Na região Sudeste do Estado, as realidades são variadas. Evandro pontua que há lavouras em boas condições, plantadas mais cedo, que conseguiram ter um arranque melhor. Por outro lado, a equipe se deparou com lavouras que não foram plantadas ainda, além de muitas áreas que vão necessitar de replante. Há casos ainda em que será necessário migrar direto para outra cultura, com milho ou algodão safra verão.
“É um ano bem atípico, com índice pluviométrico muito abaixo do normal. Se perfurar 30 cm, a temperatura é de 33 graus. Em nossa propriedade, a média anterior foi 69 sacos, se esse ano se der 60 já está positivo. O lucro vai ficar bem abaixo, devido replantio e gastos que a gente teve”, comenta o produtor Alexandre Volpato Gasparello.
A região de Nova Mutum, no médio-norte do estado, também está carente de chuvas regulares. Conforme o engenheiro agrônomo da Jatobá Planejamento e Consultoria Agronômica, Fernando Gazola, que concedeu entrevista exclusiva à Agência Safras, há lavouras boas, que receberam chuvas, mas isso é pontual.
Cenário catastrófico
Em Pedra Preta, a expedição da Aprosoja encontrou lavouras perto da perda total. Na Fazenda Guarita, em Rondonópolis, o plantio está atrasado e os registros são de pouca chuva.
“A primeira área tivemos que replantar. Falta 20% para finalizar o plantio e a safrinha já está afetada. Agora pensamos me em trabalhar mais mix de cobertura e palhada para esses próximos anos, na esperança de amenizar essas perdas com esse clima extremo. Além do atraso, outro problema vai ser a ferrugem, porque o plantio mais tardio fica mais exposto”, conclui o produtor Everton Appelt.
Previsão do tempo
De acordo com a última projeção do Instituto Internacional de Pesquisa para o Clima e Sociedade (IRI) publicada pelo Globo Rural, a possibilidade do fenômeno El Niño entrar em neutralidade é de 55% no trimestre de abril a junho de 2024. Isso significa que ele atuará na safra 2023/24 até o final do outono de 2024, reduzindo as chuvas no Norte e no Nordeste, levando chuva volumosa para região Sul e elevando a temperatura em todo o país durante esta primavera/verão.
Assim, o possível retorno da La Niña durante a safra 2024/25 deve beneficiar principalmente os produtores do Matopiba com o retorno de períodos mais chuvosos.
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