Por André Garcia
O Cerrado brasileiro pode dobrar sua produção agrícola sem derrubar uma única árvore e ainda gerar até US$ 100 bilhões até 2050. A estimativa é da consultoria Boston Consulting Group (BCG), que aponta a agricultura regenerativa como caminho para transformar pastagens degradadas, impulsionar o PIB nacional e reduzir a pressão sobre o bioma.
Segundo a análise, o Cerrado é o principal vetor de crescimento do agronegócio brasileiro nas próximas décadas. Boa parte desse potencial está nos seus 23,7 milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser recuperadas e incorporadas a sistemas agrícolas de alta produtividade.
O cálculo dos pesquisadores considerou três principais estratégias de transição: recuperação de pastagens degradadas, conversão de pastagens em lavouras regenerativas e modernização de áreas agrícolas já produtivas.
“As pastagens com alto potencial agrícola foram priorizadas para conversão até que a demanda por soja fosse plenamente atendida. As áreas restantes de alto potencial foram então alocadas à pecuária regenerativa. A priorização foi guiada pela eficiência de custo, começando pela reforma de áreas moderadamente degradadas”, diz trecho do estudo.
Em todos os cenários, a agricultura regenerativa se mostra financeiramente viável, com taxas internas de retorno (TIR) que variam entre 13% e 29%, e prazo médio de retorno (payback) entre 4 e 10 anos, dependendo do tipo de sistema adotado e do nível de degradação das áreas.
Competitividade
Com potencial para incrementar até US$ 20 bilhões anuais ao Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a quase 0,9% do PIB nacional atual, o Cerrado é apontado pela BCG como peça-chave para manter a competitividade do Brasil como um dos maiores fornecedores globais de alimentos e insumos agrícolas.
Esse processo é alavancado pelos resultados já consolidados do agronegócio no bioma, que concentra cerca de 65% da produção de grãos do País. Somados, esses fatores permitirão à região dobrar sua capacidade produtiva sem expandir a fronteira agrícola — o que representa um diferencial competitivo diante das crescentes exigências por sustentabilidade.
Ou seja, além dos ganhos econômicos e ambientais, a estratégia de recuperação de pastagens e conversão para lavouras regenerativas também reduz riscos regulatórios, já que o setor passa a operar dentro de padrões cada vez mais valorizados por investidores, mercados internacionais e políticas públicas.
Freando o desmatamento
De acordo com o estudo, a intensificação da agropecuária sustentável no bioma pode evitar a conversão de até 43 milhões de hectares de áreas naturais, reduzindo a pressão sobre o Cerrado e garantindo a preservação de remanescentes fundamentais para o equilíbrio do clima e da água da região.
Além disso, a agricultura regenerativa é apresentada como uma alternativa viável para alinhar o crescimento do agronegócio às metas brasileiras de redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e conservação de ecossistemas — uma mudança que pode ser liderada pelos próprios produtores da região.
A hora é agora
Toda a cadeia agroindustrial se beneficiará de uma produção mais eficiente, com margens maiores e menor exposição a riscos climáticos. Isso significa que a mudança também deve movimentar setores como armazenagem de grãos, transporte, assistência técnica, fornecimento de insumos e agroindústrias, consolidando o Cerrado como um dos principais polos econômicos do país.
Mas o tempo é um fator decisivo. Os pesquisadores reforçam que a hora da mudança é agora, impulsionada pela demanda crescente por alimentos, pela pressão internacional por sustentabilidade e pela disponibilidade de linhas de financiamento específicas — fatores que colocam a região como peça-chave para garantir o futuro do agronegócio brasileiro.
“O sucesso depende da mobilização de mecanismos de investimento direcionados, capital, do fortalecimento da colaboração público-privada e da implementação de métricas harmonizadas e sistemas de monitoramento de precisão. A hora de agir é agora”, concluem os pesquisadores.
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