Por André Garcia
A safra brasileira de milho deve alcançar 124,9 milhões de toneladas no ciclo 2022/2023, podendo levar o País à liderança no ranking mundial de produtores, à Frente dos Estados Unidos (EUA). Cultivado há séculos, principalmente por tribos indígenas do Centro-Oeste, o grão deu base à nossa culinária e ajudou a alçar o agro a patamares globais, perdendo apenas para a soja em exportações.
Pipoca, pamonha, curau, canjica, cuscuz e milho cozido são só alguns exemplos da versatilidade do produto na cozinha, reforçada neste mês de junho, com a abertura da temporada de festas juninas Brasil afora.
Para homenagear essa história e reforçar o orgulho das nossas raízes, o Gigante 163 separou receitas típicas de três dos maiores estados produtores de milho: Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Goiás
Criada há mais de 70 anos pela família de João Rocha e Petronilha, moradores de Quirinópolis, a Chica Doida se tornou um ícone da gastronomia do Estado, ganhou festival e foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial Goiano em 2022, com a aprovação da Lei Estadual nº 21.307.
De acordo com a Assembleia Legislativa de Goiás (AL-GO), a receita surgiu quando Petronilha fazia pamonhas e ficou sem a palha de milho usada para envolver a massa. O marido então sugeriu que ela usasse a base já pronta para criar um novo prato. Assim foram incorporados cebola, alho, sal, queijo (muito queijo), linguiça e jiló ao milho ralado.
Uma amiga do casal chamada Francisca, que ajudava no preparo, teve a ideia de acrescentar pimenta malagueta à ideia. Mas ela perdeu a mão e apimentou demais a massa. Assim, sem querer, acabou inspirando o nome do prato.
A partir daí, a Chica Doida caiu nas graças da família e foi, aos poucos, ensinada para vizinhas, filhas e outras amigas de Petronilha, até se popularizar por todo o Estado. Com isso, foram criadas versões com frango, carne seca e até sem pimenta, para os paladares mais sensíveis.
Mato Grosso
“Milho torradinho socado, canela açucarada, a branca pura daquela gurizada…” A receita de pixé está eternizada no rasqueado cuiabano com a composição de Moisés Martins e Pescuma. O doce, também conhecido como paçoca cuiabana, é caracterizado principalmente pela forma como é embalado e vendido, em cones de papel.
Com alto valor nutricional, o pixé leva poucos ingredientes e pode ser usado para enriquecer doces e mingaus ou, simplesmente, misturado ao leite e sucos. Muitos apreciadores da iguaria, contudo, preferem comê-la pura: é só jogar um pouco na palma da mão e lamber.
A origem do doce é incerta, mas, popularmente, acredita-se que ele é mais um fruto da influência africana na Capital. Como o preparo é simples e os produtos utilizados são baratos, acredita-se a receita foi utilizada inicialmente por mulheres escravizadas para fortalecer o leite dado aos seus filhos.
Hoje o Pixé é mais facilmente encontrado no Mercado do Porto, que reúne os principais elementos da gastronomia mato-grossense.
Mato Grosso do Sul
Apesar do nome, a consistência da sopa paraguaia é firme, como a de um bolo ou torta. A receita leva farinha de milho, leite, óleo e cebola, tudo misturado e assado. Outros ingredientes podem ser acrescentados, como: tomate seco e orégano.
De acordo com o projeto IPatrimônio, como sugere o nome, a receita surgiu no Paraguai, onde é considerada prato tradicional. Diferentes versões também são encontradas no nordeste da Argentina.
Também não há consenso sobre sua origem. Historiadores dizem que nasceu no século XVII a partir do erro de um cozinheiro paraguaio, que adicionou farinha de milho demais à sopa branca ou “Tykueti”, decidindo levar o preparo ao forno. Outros indícios apontam que o prato foi criado para garantir uma refeição mais consistente para os soldados que lutaram contra Brasil, Uruguai e Argentina.
Seja qual for a versão verdadeira, o fato é que sopa paraguaia fez sucesso, atravessou as fronteiras e foi incorporada ao cardápio dos sul mato-grossenses, que a consomem a qualquer hora do dia. O apelo é tanto, que, em 2017, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Dourados registrou o prato como patrimônio imaterial do município.
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