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Clima dificulta escoamento de soja em MT

Clima dificulta escoamento de soja em MTInstabilidade do clima evidencia problemas de infraestrutura. Foto: Reprodução/Aprosoja

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Por André Garcia

Se poucos meses atrás a seca prejudicou o plantio de soja em Mato Grosso, agora, no período da colheita, é o excesso de chuvas que causa dor de cabeça aos produtores. Além de comprometer a qualidade dos grãos, a instabilidade climática vem dificultando o escoamento, aumentando custos e prejudicando a rentabilidade da safra 2024/2025.

Agricultores de todo o Estado relataram à Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MT) que a chuva piorou a qualidade das estradas, impediu a colheita dos grãos, gerou atraso na entrega de insumos que seriam utilizados na safra de milho e agravou o déficit de armazenagem.

“A falta de armazéns faz com que os caminhões fiquem dois a três dias na fila para descarregar. A carroceria acaba sendo um instrumento de armazenagem para o produtor rural, que precisa contratar duas ou três vezes mais caminhões do que realmente seria necessário”, conta Luiz Pedro Bier, que produz em Gaúcha do Norte, na região Leste.

Isso traz um impacto direto ao bolso dos agricultores, já que as empresas e caminhoneiros cobram mais caro pelo tempo de espera.

“Nossa região sofre muito com falta de armazém, o que gera grandes filas para descarga. O caminhão fica 24, 36 horas na fila para poder descarregar uma carga e muitas vezes ainda não consegue porque os armazéns estão refugando carga com semente” diz Alexandre Falchetti, produtor e coordenador do núcleo da Aprosoja em Marcelândia.

Umidade dos grãos

No Sul do Estado, em Campo Verde, Rafael Marsaro, classificou o ano de 2025 como “desafiador” ao explicar que a falta de estrutura afetou a capacidade de secagem e armazenamento. “Isso resultou em perdas nas lavouras e maior pressão sobre os armazéns, que não conseguiam receber e secar os grãos com rapidez suficiente”, diz.

O excesso de umidade dos grãos, expostos às chuvas desde o plantio até a colheita, é um problema compartilhado também pelos produtores do Vale do Arinos, no médio-norte de Mato Grosso.  Como a maioria deles depende de armazéns de terceiros, a situação é ainda mais crítica.

“Nós temos tido problema de avaria e de grãos excessivamente úmidos e tem tido recusa de armazéns de terceiros para o recebimento de produtos fora do padrão, o que faz com que os produtores que não têm armazéns próprios fiquem realmente sem opção”, explica a produtora Jaqueline Piovesan.

De acordo com ela, embora alguns armazéns tenham sido inaugurados nos últimos dois anos, sua capacidade ainda é insuficiente diante da demanda, uma vez que a produção cresce em ritmo mais acelerado que a entrega dos depósitos.

Estradas destruídas

Outro ponto crítico para os produtores mato-grossenses são as estradas não pavimentadas, ainda comuns no Estado. Nos casos em que a chuva não chegou a impedir a entrada do maquinário nas lavouras para a colheita, a destruição das vias impede a chegada dos caminhões para o carregamento do grão.

É o que narra Jean Marcell Benetti, delegado coordenador de Paranatinga, onde algumas fazendas chegaram a registrar 200 milímetros de chuva em uma única noite.

“Paranatinga é um município muito grande, e a prefeitura não tem estrutura para atender toda a demanda de transporte. Tivemos vários pontos de atoleiro que dificultaram o transporte da safra. Os produtores tiveram que gastar do próprio bolso para arrumar alguns trechos para tentar resolver o problema das estradas.”

Queda nas exportações

Neste cenário, as exportações de soja do Brasil já caíram 20,77% na comparação entre janeiro e fevereiro de 2025 e de 2024. Em Mato Grosso, principal produtor do País, as remessas somaram 2,65 milhões de toneladas, queda de 24,43% em relação ao ano passado, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA).

Diante disso, Bier, que é vice-presidente da Aprosoja, defende mais investimentos em asfalto, ferrovias e hidrovias, além de linhas de financiamento para a construção de armazéns. “A maioria dos armazéns está na mão de três grandes empresas, o que limita a capacidade de armazenagem e dificulta a operação dos produtores”, conclui.

 

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