Por André Garcia
Com Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$ 210,8 bilhões e PIB estimado pelo governo de R$ 216,885 bilhões em 2022, Mato Grosso se mantém como maior polo do agronegócio do Brasil. Os números, que reforçam o papel do setor e enchem o Estado de orgulho, contrastam com um dado alarmante: 77,3% das crianças e adolescentes mato-grossenses vivem na pobreza.
A informação faz parte do estudo “As Múltiplas Dimensões da Pobreza na Infância e na Adolescência no Brasil”, divulgado na terça-feira, 14/1, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A pesquisa considera critérios como renda, educação, trabalho infantil, moradia, água, saneamento e informação.
De acordo com a Unicef, a falta de acesso a saneamento são as dimensões que mais afetam crianças e adolescentes em Mato Grosso, com impacto em 67,1% de meninas e meninos, seguida pela privação de renda, estipulada em 24,1%.
A desigualdade também se evidencia quando o assunto são as ações necessárias para reverter o quadro de pobreza. Uma delas diz respeito à promoção da segurança alimentar e nutricional de gestantes, crianças e adolescentes, garantindo o direito humano à alimentação adequada e reduzindo o impacto da fome e da má nutrição nas famílias mais empobrecidas.
No Estado proclamado pelos produtores como “celeiro do mundo”, esta não deveria sequer ser uma questão. Para se ter ideia da discrepância, em 2022 a participação mato-grossense na safra nacional foi de 30,8%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A chefe de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação da Unicef Brasil, Liliana Chopitea, falou comentou a situação.
“Os desafios são imensos e inter-relacionados. Para reverter esse cenário, é preciso políticas públicas que beneficiem não só as crianças e os adolescentes diretamente, mas também mães, pais e responsáveis, especialmente os mais vulneráveis.”
Outros números
A pesquisa cita ainda outras 5 dimensões da pobreza: falta de acesso à informação (11,1%); à moradia (7,3%); privação de educação (5,3%); trabalho infantil (5%) e água (3,3%). Ou seja, o total de 77,3% considera meninos e meninas afetados por uma ou mais de uma dimensão da pobreza multidimensional.
“A pobreza na infância e na adolescência vai além da renda. Estar fora da escola, viver em moradias precárias, não ter acesso a água e saneamento, não ter uma alimentação adequada, estar em trabalho infantil e não ter acesso à informação são privações que fazem com que crianças e adolescentes estejam na pobreza multidimensional”, explica Chopitea.
Sobre o estudo
O estudo utiliza dados oficiais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) e apresenta dados até 2019 (trabalho infantil), até 2020 (moradia, água, saneamento e informação), até 2021 (renda, incluindo renda para alimentação) e dados até 2022 (educação). Realizado pelo Unicef, com apoio da Fundação Vale, o trabalho pode ser acessado na íntegra aqui.
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