Inflação, desaceleração da atividade e desvalorização do real são três problemas da economia brasileira que podem se agravar com o conflito entre Rússia e Ucrânia .
De acordo com o economista Armando Castelar, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a história mostra que choques geopolíticos têm uma duração não muito longa, mas são muito intensos e podem deixar impactos permanentes na inflação e no crescimento econômico.
“A aversão a risco é o impacto dominante a curto prazo. O dólar se valoriza contra outras moedas. O câmbio, que vinha caminhando em uma boa direção [no Brasil], virou”, afirmou a Folha.
O conflito nem bem tinha começado e fez disparar o preço do petróleo. O barril ultrapassou US$ 100, o que pode elevar o custo dos combustíveis, componentes de maior peso do nosso principal índice de inflação (IPCA).
“As pressões sobre os [preços dos] combustíveis afetam o mundo inteiro. Piora ainda mais uma inflação que já está muito elevada”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, à CNN Brasil na quinta-feira, 24/02. “Se tem mais inflação, será necessário subir mais os juros, e juros mais altos dificultam o crescimento lá na frente.”
Para a A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), esse movimento vai atingir em cheio o agronegocio não apenas por conta do aumento nos custos de produção, mas por possível interrupções no fornecimento de fertilizantes e insumos vindos s da Rússia.
“Muitos produtores não fecharam a compra de fertilizantes diante da queda projetada nos preços dos insumos a partir do segundo trimestre. Agora, precisamos rever as estratégias, é algo que pode mexer com o próprio
abastecimento brasileiro”, afirmou ao Valor o diretor técnico da entidade, Bruno Lucchi.
O caso de insumos para fertilizantes tem mais um agravante. Além da Rússia e da Ucrânia, a Belarus, responsável por 20% do abastecimento brasileiro de potássio, com as sanções internacionais impostas e ela, já apresenta problemas com exportação do produto.
“Os países representam 40% do mercado mundial de potássio. Com problemas nos dois países, temos séria complicação para ter potássio na próxima safra”, afirmou. Ele acredita que o problema pode “bagunçar o comércio
mundial”, mesmo com os esforos da ministra de importar insumos do Canadá e Marrocos.
“Esperamos que a situação não evolua e que o conflito seja resolvido o quanto antes. Se houver desdobramentos derivados de diversos fatores interligados, teremos problemas de ordem mundial”.
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