Mesmo que o mundo inteiro zere hoje suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) a economia global ainda será forçada a lidar com perdas significativas de renda nas próximas décadas por conta das mudanças climáticas já irreversíveis. Análise publicada nesta semana na revista Nature esboçou que as perdas podem chegar a US$ 38 trilhões anuais até 2049, o que representa uma redução de 19% da renda mundial.
Para efeito de comparação, as perdas estimadas são equivalentes a quase 20 vezes o PIB brasileiro de 2022. O valor também é seis vezes maior do que os custos de mitigação necessários para conter o aumento da temperatura global em 2oC, limite máximo definido pelo Acordo de Paris para o aquecimento global até o final deste século.
De acordo com o estudo, o Brasil figura como um dos países mais afetados. Todas as regiões do País podem experimentar perdas econômicas, mas o Norte e o Centro-Oeste tendem a sofrer mais do que as demais, com perdas estimadas superiores a 25% de seu PIB.
Grande parte da Amazônia deve ser impactada com perda de renda variando entre 25% e 30%. Na região Cerrado, a queda também é em torno de 25%, enquanto que em outras regiões estima-se perdas da ordem de 10% a 20%. Quando analisada a economia mundial, os pesquisadores afirmam que a redução média de rendimento será de 19%,
O estudo é fruto de uma pesquisa inédita do Potsdam Institute for Climate Research Impact (PIK), da Alemanha. Os pesquisadores utilizaram dados empíricos de mais de 1,6 mil regiões em todo o mundo ao longo dos últimos 40 anos para projetar os impactos econômicos potenciais das mudanças climáticas já irreversíveis ao redor do globo.
“Projetam-se fortes reduções de rendimento para a maioria das regiões, incluindo América do Norte e Europa, sendo o sul da Ásia e a África os mais fortemente afetados”, destacou Maximilian Kotz, autor principal do estudo e pesquisador do PIK. “Essas perdas são causadas pelo impacto da mudança do clima em vários aspectos relevantes para o crescimento econômico, como os rendimentos agrícolas, a produtividade do trabalho e as infraestruturas”.
Globalmente, os danos anuais esperados são de US$ 38 trilhões, mas dependendo do cenário, podem chegar a US$ 59 trilhões em meados deste século. Essas perdas são decorrentes principalmente do aumento das temperaturas, variações bruscas na precipitação e na temperatura, e a ocorrência de eventos climáticos extremos, como tempestades e incêndios florestais.
“Os países menos responsáveis pela mudança climática sofrerão perdas de rendimento 60% superiores às dos países com rendimentos mais elevados e 40% superiores às dos países com emissões mais altas”, disse Anders Levermann, chefe do departamento de pesquisa em ciência da complexidade do PIK e coautor do estudo. “São também esses países que dispõem de menos recursos para se adaptar”.