Por André Garcia
Quem é do campo sabe: já há algumas safras em que a cotação das commodities não se reverte em favor do produtor, que está pagando cada vez mais caro pelos insumos. No Brasil, de janeiro de 2020 a março de 2022 os preços nominais dos principais fertilizantes, por exemplo, tiveram alta de 288% enquanto os preços da soja, milho e trigo não subiram nem a metade disso, totalizando 110%.
De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), embora o valor destes produtos tenha começado a enfraquecer em agosto de 2022, os patamares atuais ainda são significativamente mais elevados que há dois anos. O conflito entre Rússia e Ucrânia é normalmente apontado como uma dos principais responsáveis por este desequilíbrio. Mas seria o cenário geopolítico o fator de maior peso nesta balança?
Por mais de uma vez os elevados custos de produção levaram ao anúncio de uma crise alimentar mundial. Em 2021, o CEO da norueguesa Yara, uma das maiores fornecedoras globais de adubos, Svein Tore Holsether, atribuiu um possível desabastecimento ao aumento dos preços da energia, o que atinge diretamente a agricultura . Em 2022, relacionou o temor à alta decorrente de sanções econômicas impostas à Rússia, importante exportara de insumos.
“Vamos ter uma crise alimentar. É só uma questão de quão grande”, assegurou ao Wall Street Journal em março do ano passado.
No mesmo mês, o Índice de Preços de Fertilizantes Green Markets North America saltou quase 10%, atingindo uma alta histórica. Porcentagem que se traduz em lucratividade estratosférica divulgada agora, em 2023, no relatório financeiro da empresa.
Com lucro líquido global de US$ 766 milhões no quarto trimestre do ano passado, a Yara reverteu o prejuízo líquido de US$ 26 milhões registrado no mesmo período de 2021. A receita com vendas foi de US$ 5,4 bilhões, com alta de 8,5% na mesma comparação. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi de US$ 1,067 bilhão e cresceu 40%.
A companhia destaca que a melhoria de margens, devido aos preços de venda mais altos dos produtos comercializados, e os ganhos de conversão de moedas compensaram a alta de custos de produção e a queda do volume de entregas — que no último trimestre do ano foi de 25%.
Isso mostra que o aumento no preço dos insumos agrícolas está mais ligado à política comercial dos fabricantes do que às conjunturas políticas e econômicas. Comprova ainda o enorme poder que as empresas de fertilizantes têm sobre a cadeia de produção de alimentos, já que conseguem repassar aumentos de preços para agricultores e consumidores ao mesmo tempo em que incrementam suas margens de lucro.
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