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Agro tem a chave para sobrevivência do berço das águas

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Por André Garcia

Vital para a segurança hídrica, alimentar e econômica do Brasil, o Cerrado, conhecido como “berço das águas”, abriga 3.427 nascentes que abastecem a Amazônia, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica. Fronteira de expansão agrícola, o bioma está ameaçado pelo avanço da atividade que já causou a perda de metade de sua vegetação nativa. Ao mesmo tempo, é este setor que tem a chave para garantir a sobrevivência de 4,6 mil espécies de plantas e animais que não são encontrados em nenhum outro lugar.

Nesta segunda-feira, 11/9, quando se comemora o Dia do Cerrado, o Gigante 163 explica esta relação e propõe soluções para a conservação do ecossistema e para o futuro da própria agropecuária. Isso porque, seguindo o ritmo atual, estima-se que, em 2050 haverá apenas 47% do bioma em pé, o que pode sentenciar produtores de soja, por exemplo, a prejuízos de 26% e queda de até 32% na produtividade de pastagens até a metade do século.

“Em todo o Brasil, vemos a superfície de água dos rios diminuindo. Ou seja, já temos evidências suficientes de que o País está a caminho da insegurança hídrica. No caso específico do Cerrado e também do Pantanal, que está secando a olhos vistos, é urgente que a ocupação do bioma respeite um ordenamento ambiental que preserva nascentes“, disse à reportagem a especialista em conservação Helga Correa.

Vale destacar que a região já teve reduções significativas de chuvas nos últimos 30 anos. A precipitação anual entre 1991 e 2021 declinou em comparação com 1960 -1990, bem como o número de dias chuvosos no ano, segundo estudo da Scientific Reports. De 70 locais analisados, 54 tiveram declínio ao longo do ano, enquanto 16 tiveram aumento. Estes números colocam o agro em vulnerabilidade, já que o setor depende diretamente de uma boa gestão do solo, da água e do clima.

As soluções estáo aqui

ILFP integra sistema para evitar perda de água em região de Cerrado de Sinop-MT. Foto: Embrapa

As soluções para impedir a crise incluem o estímulo ao uso de pastagens degradadas, monitoramento mais rigoroso, incentivos à produção agroextrativista e uma posição de Estado em que o bioma tenha o mesmo reconhecimento que a Amazônia, sendo incluído, inclusive em legislações como a da União Europeia.

Da parte do agro, é possível aliar a conservação do bioma com aumento da produtividade. A perda de solo, água e nutrientes devido à erosão, por exemplo, pode ser contornada pela integração lavoura, pasto, floresta (ILPF), segundo trabalho realizado pela Embrapa de Sinop (MT), uma das principais regiões produtoras de grãos do Brasil.

“Optar pela conservação do solo, e, consequentemente, da água, favorece o maior uso de nutrientes e reduz os custos do agricultor. Para a longevidade desta região muito importante diante de cenários climáticos cada vez mais adversos, um olhar cuidadoso para a conservação do solo, da água e a manutenção de nutrientes no solo será imperativo”, explica o pesquisador Cornélio Zolin.

Investimentos em sistemas de irrigação de precisão, no plantio de culturas menos intensivas em água e no desenvolvimento de uma agricultura mais resistente à seca. Como já abordado pelo Gigante 163, o melhoramento genético tanto das plantas quanto dos animais também têm papel fundamental para estas mudanças.

O oposto da Amazônia

A Amazônia e Cerrado apresentam situações opostas com relação ao desmatamento. Enquanto no primeiro caso os alertas de desmate caíram 42,5%, no segundo, subiram 21,7%, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre os sete primeiros meses de 2023.

Por que isso acontece?

Uma das explicações para este contraste diz respeito à área de reserva legal, de 80% na Floresta Amazônica contra apenas 20% no Cerrado. Isso significa que a devastação neste bioma é, em grande parte, autorizada, o que impede autuações por parte do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

PPCerrado ainda no papel

A discrepância entre os biomas também está relacionada às ações de controle e combate. Para se ter ideia, ao longo do ano, o Ibama emitiu no Cerrado 482 autos de infração, 21% a mais que em 2022. Já na Amazônia, foram expedidos 3.967 autos, aumento de 173% em relação ao ano passado.

Desmatamento desacelera a medida em que controle aumenta. Crédito: MMA

Além disso, desde o início do ano a Floresta conta com o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), estratégia do Governo Federal para frear a devastação. Agora, o Governo trabalha na formulação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado), que tem lançamento previsto para o próximo mês.

 

 

Sem proteção internacional

As diferenças entre os biomas também se mostram na forma como são tratados pela comunidade internacional. A União Europeia (UE), por exemplo, endureceu as regras sobre a importação de produtos oriundos de áreas de desmatamento. Contudo, a definição florestal adotada por sua nova legislação abrange apenas a região amazônica, deixando 74% do Cerrado desprotegido.

“Precisamos perceber a importância de legislações como a da União Europeia, que hoje ainda aceitam a compra de commodities agropecuárias vindas do desmatamento do Cerrado, porque isso pode impulsionar ainda mais o aumento do desmatamento”, pontuou recentemente o diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Salmona.

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