Por André Garcia
Os prejuízos causados pelo atual sistema alimentar global, considerando toda a cadeia necessária para a produção, comercialização e consumo, somam US$ 15 trilhões por ano. Isso inclui gastos com doenças associadas à má nutrição, perda de biodiversidade, mudanças climáticas e outros danos ambientais.
É o que aponta relatório publicado nesta semana pela Food System Economics Commission (FSEC). Conforme resumiu o Financial Times, o que os economistas e cientistas responsáveis pelo trabalho constataram é que os sistemas alimentares estão destruindo valor mais do que criando.
De acordo com a FSEC, somente os custos com saúde relacionados ao modelo atual resultam em uma parcela de US$ 11 trilhões em perdas anuais em todo o mundo. Isto se deve principalmente à ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis relacionadas à alimentação, como diabetes, hipertensão e câncer.
“Temos que tomar decisões, certo? Estamos desperdiçando US$ 15 trilhões, ou estamos salvando isso e [atribuindo] ao meio ambiente? Acho que a análise de custo-benefício no geral é clara”, disse Vera Songwe, co-presidente da instituição e secretária-executiva da Comissão Econômica para a África em comunicado à imprensa.
A pesquisa resulta de quatro anos de investigação, incluindo revisões da literatura sobre o tema, estudos de caso e modelagem econômica. Nela, são apontados ainda dois cenários possíveis para 2050, um baseado em “tendências atuais” e outro em uma “transformação” dos sistemas alimentares mundiais.
Renda de US$ 10 trilhões
Segundo os autores, a reestruturação dos sistemas alimentares é uma das maiores oportunidades que temos para reverter décadas de danos tanto ao planeta quanto à saúde humana. Eles defendem que uma reformulação pode gerar até US$ 10 trilhões à economia, valor equivalente a cerca de 8% do PIB global em 2020.
Para isso, é necessário incentivar melhores práticas empresariais e hábitos de consumo mais saudáveis para as pessoas e para o planeta. Implementar todas essas mudanças custaria entre US$ 200 e US$ 500 bilhões por ano, o que é considerado um preço baixo em comparação aos ganhos.
Além do mais, a desnutrição poderia ser erradicada até 2050 e o mundo evitaria 174 milhões de mortes prematuras por doenças crônicas relacionadas à dieta. Os países até teriam melhores chances de atingir as ambiciosas metas climáticas de Paris, o que, por sua vez, traria outros benefícios.
Desmatamento e emissão de GEE
Hoje, a alimentação é responsável por 6 milhões de hectares de desmatamento por ano. Ela também responde por um terço das emissões de gases de efeito estufa (GEE) que causam as mudanças climáticas. Se isso continuar, os países não poderão atingir a meta de frear o aquecimento global estabelecida pelo Acordo de Paris em 2015.
Como resultado, extremos climáticos como secas ou inundações passam a oferecer muito mais riscos à produção de alimentos. Exemplos disso já vêm sendo mostrados por nós. No Brasil, a instabilidade do clima gerou uma crise na safra de commodities de 2023/24 e já é encarada pelo setor como uma tendência para os próximos ciclos.
“Já não há mais tempo para adiar o inevitável – este relatório destaca os passos que os formuladores de políticas devem tomar agora para criar um futuro mais saudável e sustentável”, concluiu o professor de Harvard Michael Pollan em um comunicado que acompanhou a pesquisa.
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