HomeEconomiaProdutividade

El Niño deve ficar até fevereiro e safra brasileira será a mais prejudicada

El Niño deve ficar até fevereiro e safra brasileira será a mais prejudicadaPrincipais commodities do Brasil sofrerão impacto.

COP-27: o que agronegócio ganha com avanço no debate das finanças climáticas?
Pior seca em 44 anos atinge mais da metade dos estados do Brasil
Um bilhão de vacas na Amazônia e no mundo podem sofrer por estresse térmico

Por André Garcia

A atualização mais recente da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), indicou 95% de chance de que o El Niño persista entre dezembro e fevereiro de 2024. O prolongado período de seca e calor intenso coloca em risco a próxima safra brasileira de grãos, que será uma das mais prejudicadas pelo fenômeno no mundo.

É o que aponta a Coface, consultoria internacional especializada em seguros de crédito e serviços de informação comercial. Segundo levantamento recente, o fenômeno deve comprometer a produção de commodities agrícolas, principalmente cereais, açúcar, óleo de palma e frutas cítricas, impactando, além do Brasil, países como Indonésia e Austrália.

“De fato, as perturbações terão um impacto negativo tanto na produção dos principais países exportadores (Austrália, Brasil, EUA) quanto nos pontos demográficos quentes que deveriam ser autossuficientes em alimentos (China, Índia). A pressão sobre os suprimentos, portanto, será dupla”, diz trecho do estudo.

Ou seja, colheitas mais pobres colocarão pressão nas cadeias de valor agroalimentares como um todo, e é provável que 2024 seja um ano de extrema tensão entre oferta e demanda para o setor.

Um levantamento da Consultoria Agro do Itaú publicado na quinta-feira, 24/8, reforça a preocupação ao mostrar que, em grande parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste e no Matopiba, a estiagem e o calor predominaram entre junho e julho, reduzindo ainda mais o armazenamento de água no solo e agravando o déficit hídrico.

Diante do cenário, o banco estima uma queda de 2,3% na produção de milho e uma alta de 3% na de soja no Brasil para o ano que vem. Nas projeções do Itaú, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deve registrar uma desaceleração importante: em 2024, o crescimento do setor deve ser de 2,5%, abaixo dos 12,3% projetados para este ano.

Inflação e instabilidade

Correlação – PIB do Brasil com ONI

A análise da Coface lembra que episódios do El Niño nos últimos 20 anos geralmente levaram a pressões inflacionárias nos preços dos alimentos, situação também prevista pela gestora de investimentos britânica Schroders, que exemplifica como os efeitos do fenômeno trazem aumento nos custos à cadeia produtiva do agro.

Além disso, ambas as consultorias destacam que países onde o setor agrícola é predominante podem sofrer perdas significativas de renda e emprego e que as dificuldades econômicas causadas pelas incertezas das condições climáticas devem criar um contexto de instabilidade social.

Recordes de temperatura

De acordo com o Serviço Nacional de Meteorologia, o aumento da temperatura oceânica pode chegar a até 1,8°C, o que caracterizaria um El Niño entre moderado e forte. Os resultados disso são sentidos na pele: o mês passado foi o julho mais quente já registrado no mundo, segundo o painel de mudanças climáticas Copernicus, da União Europeia.

Soma-se a isso, o fato de que o El Niño amplifica os efeitos negativos do aquecimento global, especialmente na Ásia-Pacífico, África do Sul e Leste e nas Américas. Ou seja, a partir de agora devem ser potencializados os casos de incêndios florestais, inundações e deslizamentos.

LEIA MAIS:

El Niño é um dos impulsionadores do calorão desta semana

Especialista explica riscos do El Niño para o agronegócio

El Niño deve mudar dinâmicas do agro de forma permanente

El Niño e queimadas são combinação desastrosa para a saúde

El Niño faz Mapa atualizar cartilha de programas de apoio ao Seguro Rural

Produção global de alimentos sob os impactos do El Niño

El Niño ameaça produção agrícola no Centro Oeste, diz jornal inglês

El Niño severo pode prejudicar produção agrícola e causar inflação