Por André Garcia
Atingido em cheio pelo calor extremo que resultou da combinação entre mudança climática e El Niño, o produtor de soja no Brasil vê o preço da oleaginosa recuar para o menor patamar nominal desde agosto de 2020.
Os números, divulgados na sexta-feira, 19/1, são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Na data, os preços no porto de Paranaguá, no Paraná, estavam em R$ 121,81 por saca de 60 quilos, uma redução de quase 15% no acumulado do mês.
Diante da situação, os vendedores preferem não negociar, por conta das possíveis quebras de produtividade. Como já mostramos, em todo o País a produtividade deve ser de 4 sacas a menos por hectare se comparada ao ano passado.
Por outro lado, compradores não demonstram interesse em adquirir volumes significativos da oleaginosa, estando atentos à maior oferta do grão e ao baixo volume da safra 2023/24 comprometido em contratos a termo por parte de produtores.
Colheita
Além de Mato Grosso e Paraná, a colheita de soja também começou em São Paulo, em Mato Grosso do Sul e em Goiás. Nestes estados os sojicultores relatam que a produtividade está abaixo da esperada.
Perspectiva reforçada por uma série de consultorias especializadas, como a Agroconsult, que aponta para uma produção superior a 11 sacas por hectare, como é o caso do Mato Grosso, que deve passar de 63,8 em 2022/2023 para 52,5 sacas.
“As lavouras que estão sendo colhidas agora são as piores e as mais afetadas pela seca. O receio agora recai sobre o possível excesso de chuvas durante a colheita nas próximas semanas”, informou a empresa na última semana.
A expectativa dos agentes de mercado consultados pelo Cepea esperam que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) reduza sua projeção para a safra brasileira na próxima estimativa. Por enquanto, o órgão prevê 157 milhões de toneladas.
Projeções para o Centro Oeste
Segundo a Agroconsult, no Oeste de Mato Grosso o clima trouxe perdas de estande e abortamento de vagens, afetando lavouras mais precoces. Favoreceu ainda a incidência de pragas. O replantio no estado é recorde e ultrapassa 1 milhão de hectares.
O Sudoeste de Goiás traz um cenário muito semelhante, com atraso significativo na regularização das chuvas e altas temperaturas. O início da colheita na região confirma resultados abaixo da expectativa dos produtores.
Já no Mato Grosso do Sul, agora é a vez da região norte apresentar quebras, diferente do que aconteceu na safra 2021/22, quando o Sul do estado puxou a produtividade média para baixo.
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