Por André Garcia
Como já mostramos, a compra de insumos para a safra 24/25 começou a atrasada. A cautela do produtor, justificada pela alta do dólar e queda no preço da soja, pode não garantir vantagem nem para aqueles que produzem fertilizantes e defensivos biológicos em suas próprias fazendas, já que o excesso de exigências previstas na Nova Lei dos Agrotóxicos (Lei nº 14.785, de 2023) deve inviabilizar esta estratégia.
Há poucos dias, a Associação Brasileira de Bioinsumos (ABBINS) e o Grupo Associado de Agricultura Sustentável (GAAS) enviaram carta aberta ao Governo Federal apontando que a norma mantém o agro brasileiro refém da indústria de agrotóxicos, burocratizando o processo e aumentando a insegurança jurídica. Mas a quem interessa essa dinâmica de dependência?
Se para os agricultores o cenário é de desafios, para a indústria de defensivos a conjuntura não poderia ser melhor. Dados da consultoria Next Move Strategy Consulting apontam que o mercado global deve valer em 2024 mais de 240,22 bilhões de dólares, e a projeção é de que esse valor aumente para mais de 279,12 bilhões de dólares em 2030.
Segundo publicação da Agroreceita, nos últimos cinco anos, os fabricantes da Europa enviaram para o País 270 mil toneladas de produto, volume 13% a mais que no mesmo período do ano anterior. Os produtos mais comprados foram fungicidas, herbicidas, inseticidas, inibidores de germinação e reguladores de crescimento de plantas.
No geral, em 2023, o Brasil importou 589 mil toneladas de defensivos agrícolas, ao custo de US$ 4,9 bilhões. De acordo com outra consultoria internacional, a Kynetec, o mercado para proteção de cultivos movimentou cerca de US$ 20 bilhões no Brasil na temporada 2022/2023, um crescimento de 43% em relação ao ciclo 2021/22, que registrou US$ 14 bilhões.
Não por coincidência, durante as tramitações de novas regras de uso, fiscalização, tributação e liberação dos agrotóxicos, o Governo Federal teve ao menos 752 compromissos com participação de lobistas e representantes de empresas relacionadas a agrotóxicos. Isso significa que ocorreu pelo menos 1 reunião a cada 4 horas e 48 minutos entre outubro de 2022 e agosto de 2024, considerando horas úteis de trabalho.
Também foi nesse período que o Congresso Nacional derrubou metade dos vetos presidenciais à Nova Lei dos Agrotóxicos, tirando Ibama e Anvisa do processo de aprovação de novos produtos. Estes dados foram levantados utilizando a Agenda Transparente, ferramenta gratuita desenvolvida pela Fiquem Sabendo (FS)que permite monitorar as agendas oficiais do Executivo federal.
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