Por André Garcia
Mais do que atender à agenda do clima, os modelos sustentáveis no agronegócio vêm se firmando como estratégia para aumentar a competitividade e o lucro. Não à toa, cresce a mobilização do setor por uma transição. É o caso da Frente Empresarial para a Regeneração da Agricultura (FERA), grupo formado por produtores que já colhem os bons frutos da estratégia no Brasil.
“A FERA aglutina pessoas trabalhando com essa mesma perspectiva, mostrando que esse pode ser um negócio de escala, que vai crescer e que é aplicado em diferentes setores da produção agropecuária. É um grupo de pessoas que está executando e não discutindo”, disse ao Gigante 163 Luis Fernando Laranja, um dos membros.
Laranja começou a investir no modelo regenerativo há dez anos. Há cinco, junto aos seus sócios da Caaporã Agropecuária, deu início também à produção de gado de corte em 16 mil hectares, com mais de 6 mil hectares implantados no sistema de modelo silvopastoril em fazendas em Mato Grosso, Tocantins e Bahia.
Seu histórico reforça benefícios como a redução de custos, a melhoria do solo e a resistência ao clima. Contudo, Luis reconhece que a prática ainda enfrenta barreiras culturais, falta de crédito e de suporte técnico. Assim, para que ela possa ajudar o País a enfrentar a crise climática, é necessária uma reorganização do setor como um todo.
“Quando se fala em mudanças climáticas, as duas principais variáveis são a energia e o uso da terra. E a terra é majoritariamente usada para pecuária. Então, ou o setor se reorganiza ou estamos perdendo tempo em falar sobre combater os efeitos da mudança climática”, pontuou.
Proposta avança entre produtores
É aí que a Frente Empresarial para a Regeneração da Agricultura faz a diferença, ajudando a preencher brechas com a troca de informação técnica e dando suporte para o avanço de políticas públicas que impulsionem a transição. O grupo vem crescendo e, diante da procura, já começou a desenvolver uma série de critérios para selecionar os novos membros.
“Embora tenha muito desconhecimento, vemos que também há muito interesse. Esses critérios vão dar um nível de homogeneidade ao grupo. Tem um aspecto importante que, de forma geral, o assunto está badalado e gerando interesse, então a ideia é definir quem está genuinamente pautado pela regeneração”, explicou Laranja.
Modelo do futuro
Segundo Laranja, em um mundo cada vez mais quente, a agricultura regenerativa se mostra viável para o agro por três motivos principais. O primeiro é que ela dá mais sustentação aos negócios que modelos tradicionais, já que os mercados vão ficar cada vez mais seletivos e restritos, a exemplo do que já ocorre com a União Europeia.
O segundo é que traz para o jogo elementos novos, como a geração de créditos de carbono.
“Já há produtores com linha de faturamento ambiental advinda dos créditos de carbono. Além de vender carne, soja, milho, laranja, café etc. Entendemos que será possível vender créditos de carbono também.”
O terceiro diz respeito à correlação positiva entre boas práticas agropecuárias e rentabilidade do negócio. No caso específico da pecuária, Fernando é a prova viva de que a estratégia reduz o uso de insumos e torna o negócio mais rentável: em suas propriedades, os indicadores cresceram de 6 a 10 vezes após a implementação.
Aumento na produtividade
Com a experiência acumulada em cinco anos de produção de gado de corte em quatro fazendas localizadas em Mato Grosso, Tocantins e Bahia, Laranja, por meio de sua empresa, a Caaporã Agropecuária, arrenda propriedades com pastagens improdutivas e faz a conversão para sistemas regenerativos de alta eficiência.
De acordo com o produtor, a diferença nos indicadores é expressiva: em pastagens degradadas, a lotação média é de 0,8 a 1 cabeça por hectare, com ganho de peso diário de 250 gramas. “Após a conversão, esses números sobem para 2,5 a 3 cabeças por hectare, com ganho médio de 750 gramas por dia”, pontuou.
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