Por André Garcia
O debate sobre o fim da escala 6×1 no Brasil tem ganhado força também entre os trabalhadores rurais. Se aprovada, a proposta de emenda à Constituição (PEC) vai equiparar seus direitos aos de outros trabalhadores, assegurando períodos regulares de descanso e melhores condições laborais a profissionais que, em geral, estão mais expostos a longas horas sob sol e ao manuseio de substâncias tóxicas.
Recentemente, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas (Contar) apontou que, para os trabalhadores do campo a atual jornada tem um impacto ainda mais devastador, já que, na maioria dos casos, eles moram longe dos centros urbanos, enfrentam condições de trabalho duras e longos períodos sob condições climáticas adversas.
“Sem tempo para recuperar o corpo e a mente, os(as) trabalhadores(as) são condenados a um ciclo de fadiga, onde o dia de descanso não basta para compensar o desgaste da semana. O impacto disso é evidente: crescem os índices de adoecimento, acidentes de trabalho e até casos de esgotamento físico e mental”, diz trecho de publicação da Confederação.
Ao Gigante 163 o vice-presidente da Comissão de Direito do Trabalho da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), Yam Evangelista Chaga destacou que a saúde mental dos trabalhadores rurais é um aspecto fundamental para garantir a sustentabilidade do setor, tanto do ponto de vista humano quanto produtivo, já que resulta em funcionários mais engajados, eficientes e resilientes.
“Além de outros direitos trabalhistas, os empregadores devem considerar os impactos sobre a saúde e bem-estar dos empregados, estabelecendo os limites desta relação para evitar problemas futuros”, disse ao ressaltar que, “além da obrigação ética, esta é uma estratégia inteligente que beneficia toda a cadeia produtiva”.
Segundo a Contar, a escala com apenas um dia de descanso semanal também inviabiliza a conciliação com a vida familiar e comunitária. Muitos não conseguem ver suas famílias durante a semana, e um único dia de descanso se torna insuficiente para compensar o distanciamento de filhos, cônjuges, parentes e amigos. Além disso, a escala 6×1 é um obstáculo para o desenvolvimento pessoal e profissional.
“Como dedicar-se a cursos, estudos ou treinamentos que permitam uma ascensão profissional, quando se tem um único dia de descanso? Sem tempo para investir em sua formação, os(as) trabalhadores(as) ficam aprisionados em funções de baixa qualificação e remuneração. A sociedade perde quando o(a) trabalhador(a) é privado da possibilidade de crescer, melhorar, estudar”, pontua a entidade.
Desafio para o setor.
Apesar de todos os problemas, a PEC contra o fim deste modelo de trabalho enfrenta resistência de parte do setor produtivo, que alega impacto na competitividade. Por outro lado, organizações sindicais e movimentos sociais argumentam que a modernização das relações trabalhistas no campo é essencial para a sustentabilidade e justiça social no agronegócio brasileiro.
Em novembro a proposta reuniu as assinaturas necessárias para ser formalmente apresentada, mas ainda passará por diversos debates no Congresso antes de se tornar realidade. Enquanto isso, a questão segue como símbolo do desafio de equilibrar o crescimento econômico no agronegócio com a promoção de justiça social e respeito aos direitos fundamentais de quem move esse setor essencial.
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