Selecionado por Jeff Bezos, dono de uma das maiores fortunas do mundo, para liderar a uma missão que tem como objetivo transformar processos na produção de alimentos, Andy Jarvis aposta em uma mudança na pecuária a partir da relação equilibrada com o clima e a natureza, temas que estuda há mais de 20 anos. E isso inclui projetos no Brasil
PhD em Geografia pelo Kings College, de Londres, hoje Jarvis é diretor de Futuro dos Alimentos no Bezos Earth Fund, entidade filantrópica com fundos de US$ 10 bilhões. Um de seus principais focos é encontrar soluções para reduzir os impactos da pecuária, seja reduzindo emissões de gases de efeito estufa (GEE) ou diminuindo a pressão da atividade sobre as florestas da Amazônia.
“Todos pensam imediatamente na energia e nos transportes como os motores das alterações climáticas. Mas os alimentos que comemos todos os dias representam um terço das emissões globais. E vemos uma enorme oportunidade de reduzir isso. Você sabe, precisamos alimentar 10 bilhões de pessoas, mas fazê-lo de uma forma que não esteja gerando tantas emissões”, explicou à Agfeed.
De acordo com ele, o primeiro passo é reconhecer que a produção de proteínas ou alimentos de origem animal, essencialmente gado, é a maior fonte de emissões no sistema alimentar. E é a maior forma de uso da terra do planeta, com 40% das áreas livres de gelo. São mais de 15% das emissões globais provenientes da pecuária.
“Essas são as duas coisas em que nos concentramos. Temos de enfrentar a crise climática, reduzir as emissões, colocar o mundo em direção a mais sustentabilidade. Esse é o grande compromisso do fundo. Temos US$ 1 bilhão comprometido com a área de alimentos até 2030. E é disso que eu preciso”, afirmou.
Tecnologia e projetos
Seu trabalho tem duas vertentes. Uma, diz respeito a um olhar específico para tecnologias que possam ajudar a, nas palavras de Jarvis, tornar a pecuária mais sustentável. A segunda é financiando projetos que promovam ganhos de produtividade através da adoção de práticas mais eficientes de manejo e rastreabilidade do gado.
E é aí que o Brasil ganha relevância na estratégia do Bezos Fund. No fim do ano passado, durante a COP28, em Dubai, o Bezos Fund anunciou um aporte de US$ 57 milhões para apoiar as ações voltadas para a transformação dos sistemas alimentares.
Desse total, US$ 16,3 milhões irão para os projetos na Amazônia, onde a entidade pretende desenvolver “o maior sistema de rastreabilidade animal do mundo”.
O fundo tem também suas metas de olho na COP30, que vai acontecer em Belém (PA), em 2025. Jarvis espera, até lá, poder obter resultados comprovando a eficiência dos investimentos em projetos pilotos realizados junto a pecuaristas da região, fomentando técnicas como o manejo rotacionado de pastagens e introduzindo as tecnologias de rastreamento.
A meta inclui a redução das emissões de metano em 30% em até 15 anos.
“Não vamos ter 25 milhões de cabeças rastreadas e tudo funcionando até a COP30, mas devemos ter essencialmente um plano muito detalhado e pilotos rodando em vários municípios do Pará”, diz Jarvis.
Regulamentar para abrir mercados
Para Jarvis, os pecuaristas não devem ver isso como uma espécie de penalidade, mas como uma oportunidade de abrir novos mercados
“Estamos olhando para o lado de incentivo também e vemos dois lados nisso. Um deles é o mercado de carbono. Podemos acessar mercados de carbono para que pecuaristas possam obter renda adicional por causa dos benefícios de carbono que trazem com práticas aprimoradas.”
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