Acesso às emissões de gases do efeito estufa (GEE) e a verificação da saúde do solo são algumas das estratégias para que o produtor possa atender demandas sustentáveis, lidar com as mudanças climáticas e potencializar seus ganhos. É justamente a compreensão desses dados, crucial na tomada de decisões, que propõe a climatech Salva, por meio de sua plataforma digital Flora.
Nas fazendas, onde começa a cadeia do agronegócio, a ideia ainda é nova. Mas a adaptação às mudanças climáticas e as crescentes exigências regulatórias – vide a polêmica lei antidesmatamento da União Europeia – devem acelerar essa transformação.
“A gente está passando por uma mudança estrutural. O produtor tem que começar a entender e pensar o negócio agrícola de maneira diferente”, disse à Capital Reset o responsável pela startup, Gabriel Klabin.
Não à toa, a startup já monitora 2,3 milhões de hectares e tem clientes como a gigante SLC Agrícola. Além disso, está no meio de rodada de investimentos-anjo de R$ 5 milhões para expansão do negócio.
“Todo mundo já entendeu os efeitos das mudanças climáticas, mas mudar dói. O produtor está gerindo um negócio, e ele tem que ver algum benefício financeiro de fazer isso”, afirma.
Gestão de dados
A Salva tem produtos específicos para diferentes demandas do agronegócio, mas a ideia é que todas se complementem numa espécie de painel de controle. As informações ficam reunidas numa plataforma proprietária chamada Flora, em que o produtor pode acessar os indicadores mais importantes de maneira simplificada, assim como os gestores de grandes companhias e seus softwares SAP ou Oracle.
Dos quatro produtos que a startup tem no momento, o principal é o Salva Carbon, que apresenta para o produtor um retrato do balanço de emissões de gases do efeito estufa de uma propriedade. A metodologia é o GHG Protocol, o padrão-ouro para determinar o impacto climático de empresas.
“O produtor consegue entender, por talhão, onde e qual deve ser o esforço maior para obter o melhor resultado”, afirma a executiva da Salva, Rafaela Caetano.
Rafaela cita um exemplo prático de uma fazenda no Pará, a Sierentz Agro Brasil, que passou a produzir soja com balanço negativo de carbono neste ano após ter começado a fazer seu inventário de emissões de gases de efeito estufa há três anos. O produtor passou a trabalhar com o receituário da agricultura regenerativa: implementou com plantas de cobertura, fez a integração lavoura-pecuária e lavoura-floresta (ILPF) e montou biofábricas de insumos biológicos.
“No segundo ano, o número de emissões deles já foi muito mais baixo, e agora, no terceiro ano, quando eles intensificaram o manejo, a soja deles já retirou mais carbono da atmosfera do que emitiu”, disse ela.
Uma outra solução, a Salva Crop, permite o monitoramento de pastagens e culturas, avaliando a mudança do solo ao longo do tempo em suas terras – o que abrange, por exemplo, a degradação das terras. Dessa forma, é possível comparar a mudança do solo ao longo do tempo mirando as datas-corte para desmatamento previstas no Código Florestal ou ainda pela União Europeia.
Há ainda soluções de certificação e adaptação às mudanças climáticas, que se chamam Salva Certified e Salva Adapta.