Nos anos de 1970, uma parceria entre os governos do Brasil e do Japão, por meio da agência Jica, foi decisiva para a abertura de áreas do Cerrado, o que ajudou o País a se transformar em uma potência agrícola. Hoje, para dar sequência à segunda fase desse processo de evolução produtiva, o foco é o dinheiro da China e de nações árabes.
Foi o que declarou ao Valor, Carlos Augustin, assessor especial do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Carlos Fávaro.
“Esses países precisam garantir a segurança alimentar deles”, afirmou.
A publicação adianta que, em nova visita à China, o ministro tem como missão assegurar apoios adicionais ao plano do Governo Federal de financiar a conversão de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas em lavouras. A meta, ambiciosa, deve dobrar a área plantada no Brasil nos próximos anos.
Como noticiado pelo Gigante 163, pelos cálculos da Pasta, transformar um hectare de pastagem improdutiva em área de cultivo agrícola custará, em média, US$ 3 mil, o que exigiria cerca de US$ 90 bilhões – o equivalente, hoje, a quase R$ 500 bilhões – em investimentos.
Para efeito de comparação, todas as linhas de crédito do Plano Safra 2022/23, para produtores de todos os portes e perfis, totalizaram R$ 340,88 bilhões. A ideia já foi apresentada a empresários chineses no mês passado, em outra missão brasileira, e a multinacional Cofco International deve ser a primeira a participar de um projeto piloto.
O plano vem sendo debatido desde a campanha eleitoral de 2022. Isso porque, com as limitações do orçamento federal, o ministro sabe que o crédito rural oficial não será suficiente para bancar a transformação dessas áreas.
De acordo com Augustin, o grande interesse por temas como sustentabilidade e crédito verde que os chineses manifestaram nas reuniões do mês passado surpreendeu a delegação brasileira. Segundo ele, o Brasil pode aproveitar esse momento para atrair os investimentos.
O financiamento
O ministro negocia com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a criação de um programa para financiar a conversão. Em paralelo, ele quer costurar com as multinacionais a compra da produção dos grãos das áreas a serem recuperadas, o que geraria receita para os produtores e incentivaria a prática no campo.
A ideia é que os compradores da soja e do milho brasileiros ofereçam contratos de longo prazo aos agricultores para assegurar demanda firme pela produção dessas novas áreas de lavoura. Procurada, a Cofco não se manifestou.
A proposta inclui a possibilidade de antecipação de pagamento da safra, o que daria fluxo e capital de giro aos produtores. Na visão da equipe de Fávaro, o comprometimento dos importadores pode ser decisivo para complementar a oferta de recursos para as iniciativas de conversão.
Protocolo de sustentabilidade
O Ministério também quer criar um protocolo de sustentabilidade para a soja brasileira, a exemplo do que já existe para o algodão, considerado um modelo de sucesso e que tem reconhecimento dos importadores. A ideia, no entanto, é implementar algo menos complexo.
No caso da fibra, existem vários programas de rastreabilidade e certificação por meio dos quais o comprador na China consegue identificar, via QR Code, em que fazenda ocorreu o cultivo da pluma. Para a soja, o objetivo é “empacotar” algumas práticas que os produtores já adotam e garantir a eles uma classificação de sustentabilidade.
O agricultor então precisaria se encaixar em um determinado perfil. Entre os requisitos estariam o de produzir soja seguida de milho ou outra cultura de cobertura que proteja o solo e capture carbono e, também, o de expandir a produção em área de pasto degradada.
O protocolo produtivo estaria associado à proposta de financiamento para a conversão de pastagens. Os produtores apresentariam esse atestado de transformação de áreas aos países importadores mais exigentes, e de maneira antecipada.
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