Ondas de calor, incêndios florestais, chuvas recordes e inundações assolam os quatro cantos do planeta. Para além das milhares de vidas perdidas, o custo desses desastres, que segundo especialistas estão se tornando mais frequentes e mais intensos devido à mudança climática, também pode ser medido pelo valor econômico.
De acordo com matéria do Financial Times publicada na segunda-feira, 28/8 pela Folha de S.Paulo, especialistas temem a ocorrência de um “momento Minsky climático”, termo usado para definir uma correção repentina dos ativos, à medida que os investidores percebem simultaneamente que esses valores são insustentáveis.
Neste contexto, a agricultura está entre os setores mais vulneráveis. Em relatório de 2022 a gigante financeira Morgan Stanley estimou que pelo menos 44% do trigo, 43% do arroz, 32% do milho e 17% da produção de soja vêm de áreas de risco. Logo, desastres induzidos pelas mudanças climáticas ameaçam pelo menos US$ 314 bilhões da produção anual.
Até agora, empresas e investidores deram mais atenção aos custos e riscos da descarbonização do que aos efeitos físicos das mudanças climáticas, sendo este segundo tema discutido com metade da frequência que o primeiro nas comunicações corporativas dos Estados Unidos, segundo o grupo de pensadores Brookings Institution.
Uma série de pesquisas do Fundo Monetário Internacional mostra que, enquanto o mundo tenta limitar o aumento das temperaturas médias globais, as ações não vêm precificando os riscos da mudança climática. Uma explicação para isso, é a percepção da distância dos riscos, como o aumento do nível do mar.
Agricultura sob ameaça
O potencial de aumentos acentuados nos preços das commodities também já foi apontado pela Unilever, que estima aumento nos preços do óleo de palma entre 12% a 18% até 2050, dependendo do aumento das temperaturas.
A publicação da Financial Times reforça um dado já mostrado pelo Gigante 163, de que o impacto destas alterações seria distribuído de forma desigual. Isso porque, enquanto países da América, Ásia e África sofrerão com escassez e inflação, outras nações, especialmente as mais frias, como a Rússia, podem se tornar mais produtivos.
Escassez x excesso
A insegurança alimentar é agravada pela escassez de água doce, que tem na agropecuária sua principal dependente:70% do consumo global é destinado à atividade. Enquanto isso, dois bilhões de pessoas já não têm acesso a água potável limpa e segura e, até 2030, prevê-se que a demanda por água doce exceda a oferta em 40%.
Por outro lado, o excesso de água também pode causar estrago. Cerca de um quinto das fábricas de computadores e eletrônicos da Ásia estão em áreas propensas a inundações, de acordo com a Moody ‘s. A ON Semiconductors fechou uma fábrica atingida pelas inundações de 2011 na Tailândia devido aos custos “excessivos” de reconstrução.
Incêndios florestais
Os incêndios florestais são outra fonte de crescente ansiedade. Globalmente, o movimento de populações para longe das áreas mais atingidas provavelmente ocorrerá numa escala muito maior. Mais de 20 milhões de pessoas por ano, em média, foram deslocadas por eventos climáticos extremos desde 2008.
Até 2050, até 1,2 bilhão de pessoas poderão deixar suas casas, segundo o Instituto para Economia e Paz. Os títulos soberanos já registram as consequências financeiras disso: nações que enfrentam uma mudança projetada maior nos riscos físicos pagam spreads mais altos para financiamento de dívida de longo prazo, segundo o FMI.
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