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Jornal britânico cita estudo brasileiro sobre impacto do desmate no agro

Jornal britânico cita estudo brasileiro sobre impacto do desmate no agroOs prejuízos são mais intensos nas regiões mais desmatadas. Foto: Divulgação/Polícia Federal

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Por André Garcia

O jornal britânico The Economist, um dos mais respeitados do mundo, destacou nesta semana um estudo divulgado em outubro pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Rainforest Foundation Norway (RFN) que mostra o impacto do desmatamento sobre os próprios agricultores brasileiros. Isso porque, sem árvores para circular a umidade, a terra está ficando mais quente e seca.

Como divulgado à época pelo Gigante 163, o relatório mostra que o desmate na Amazônia brasileira levou a uma redução na produtividade das lavouras, resultando em perdas econômicas totais de cerca de US$ 1 bilhão entre 2006 e 2019. Após contabilizar os custos de produção, as receitas líquidas da soja caíram 10% nesse período, enquanto as do milho caíram 20%.

Além disso, se o desmatamento total continuar no ritmo atual, agricultores e pecuaristas enfrentarão condições ainda mais severas. Uma estimativa indica que, até 2050, as perdas podem chegar a US$ 1 bilhão por ano.

Para além dos números, Anders Krogh, consultor especializado em florestas da RFN, afirma que esses resultados destacam o perigo que o desmatamento representa para a segurança alimentar global.

“Quando florestas antigas são substituídas por campos abertos, um equilíbrio delicado dos ciclos hídricos é interrompido. Durante a transpiração, as árvores convertem água em vapor, que forma grandes nuvens de chuva e tem um efeito de resfriamento na região. Esse processo de reciclagem da umidade também influencia a circulação atmosférica, desempenhando um papel fundamental na regulação da temperatura na bacia amazônica”, diz trecho da publicação.

Os efeitos são mais intensos nas regiões mais desmatadas. Em áreas onde mais de 80% da floresta foi removida, o início da estação chuvosa foi atrasado em 76 dias desde 1980. Entre 1999 e 2019, a precipitação nessas mesmas áreas caiu 40% durante a safra de soja e 23% no período de cultivo do milho.

As temperaturas máximas do ar aumentaram cerca de 2,5°C no mesmo período (de 30°C para 32,5°C). Menos chuva e dias mais quentes significam colheitas menores e receitas reduzidas.

Papel da restauração florestal

Neste contexto, o papel destaca o papel da restauração florestal, que pode reverter as tendências de redução das chuvas. Conforme o relatório da UFMG, se o estado do Pará, por exemplo, reflorestasse 55.000 km² de terras aráveis, as chuvas poderiam chegar, em média, cinco dias mais cedo, e até 19 dias em algumas áreas.

Nas regiões mais desmatadas, isso significaria 152 mm a mais de precipitação por ano. Por ora, porém, isso parece um grande desafio, já que empresas agrícolas no Brasil tendem a tratar relatórios como este, e os pesquisadores que os elaboram, com ceticismo.

“O termo “agrofóbico” é frequentemente usado para descrever cientistas que criticam as práticas agrícolas do país. A desconfiança também está presente entre os agricultores. Apesar dos custos crescentes para se adaptar às condições mais secas, muitos agricultores brasileiros contestam as alegações de que a redução dos rendimentos decorre de mudanças climáticas ou do desmatamento”, aponta o jornal.

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