Enquanto acena para investidores internacionais, na tentativa de abrir capital na bolsa de Nova York, a JBS deixa um lastro de pobreza nas cidades onde opera. Isso é o que revela o relatório “Alimentando a Desigualdade: os custos ocultos do monopólio industrial da carne”.
A investigaçao de Raisa Pina, pesquisadora visitante do King’s College London e do Centro Latino-Americano da Universidade de Oxford, não incluiu os fornecedores da empresa, que também sofrem nas mãos deste gigante. Porém os números sobre seus funcionários e as cidades onde a JBS opera não deixam dúvidas: a excessiva concentração de poder nas mãos da companhia só serviu para beneficiar meia dúzia de pessoas. Mais especificamente: seus controladores e altos executivos.
Para se ter uma ideia, segundo o relatório, mais de 100 mil trabalhadores da JBS ganham um salário médio
de R$ 1.700 mensais, enquanto cada um dos seus cinco principais executivos fatura o equivalente a R$ 2 milhões por mês.
Com isso, dificilmente os funcionários da empresa têm condições de movimentar o comércio local e fortalecer a economia dos municípios onde a companhia está presente. Isso é comprovado pelo aumento de pedidos de Bolsa Família nesses municípios, entre 2013 e 2023, quando houve um aumento de 303% na receita da JBS.
Como o levantamento pega uma década do benefício em diferentes estados e, portanto, diferentes espectros políticos, não é possível dizer que esse aumento seja resultado da má administração deste ou daquele prefeito, governador ou presidente. O que esses municípios têm em comum é a presença da gigante JBS. Em Lins, cidade do interios de São Paulo onde a empresa opera seu maior frigorífico, os cadastros do Bolsa Família aumentaram 51%. Mais relevante foi o crescimento em Goiânia, de 162%, no período. De acordo com o estudo, apenas uma das 12 cidades analisadas não teve novos beneficiários nestes dez anos.
O termo gigante usado para falar da JBS não é à toa. O faturamento anual da empresa, de R$ 370 bilhões, supera o PIB de 20 estados brasileiros.
O lucro da JBS é igualmente gigantesco:US$ 1 bilhão. Mais da metade dessa bolada vai para as mãos dos proprietários da JBS, a faília Batista. O BNDES, que financiou o crescimento da companhia com juros baixíssimos, fica com 20%. O restante é dividido por pequenos acionistas.
Não bastassem os escândalos ambientais da JBS, que acabam prejudicando a imagem do setor em todo o mundo, agora constata-se que a companhia não gera crescimento algum, a nao ser para seus donos. É esse o modelo de negócios que o agro brasileiro moderno quer seguir?