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Mais rentável que soja, cacau quer assumir protagonismo em MT

Mais rentável que soja, cacau quer assumir protagonismo em MTOferta de água garante produção na Amazônia. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia 

Ofuscada pelas commodities que dominaram Mato Grosso nas últimas décadas, a produção de cacau aposta em sustentabilidade e governança paraassumir o protagonismo no Estado. Com renda líquida de até R$ 10 mil por hectare, valor bem superior aos cerca de R$ 3 mil registrados pela soja, a fruta pode garantir desenvolvimento econômico e social a pequenos agricultores de Alta Floresta, Carlinda e Paranaíta.

É o que garante Valmir Ortega, CEO da startup de reflorestamento Belterra, que receberá investimento de R$ 33 milhões da Cargill  para fortalecer a produção no norte de Mato Grosso e, de quebra, restaurar 1.000 hectares de áreas degradadas. Ao Gigante 163, ele conta que isso será possível graças a implantação de sistemas agroflorestais, que misturam as árvores da fruta com outras culturas e vegetação nativa.

“Nós vamos desenvolver diversas culturas anuais, garantindo renda de curto prazo. Se dependêssemos apenas do cacau, o retorno só começaria a ser observado a partir do terceiro ano. Então o que fazemos é criar uma estrutura florestal focada em alta rentabilidade. Temos modelagens financeiras que apontam para esses resultados”, explica.

Para chegar aos arranjos mais lucrativos para o que Valmir chama de “floresta produtiva”, são analisadas mais de 34 culturas, considerando as peculiaridades da região, a interação entre espécies e o interesse comercial. A Belterra combina ainda culturas de ciclos curtos e longos no mesmo espaço, formando um sistema de produção de alimentos que regenera a terra e remunera desde o primeiro ano.

“Não estamos falando de monocultura de cacau. Haverá um conjunto de outras espécies, como mandioca, banana e milho. Isso tudo, pensando tanto na comercialização e geração de renda, quanto no papel que estas plantas exercem na recuperação do solo”, reforça Valmir.

Sistema de parceria

A implantação do sistema pela Belterra se dá a partir de três modelos de parcerias: arrendamento, para agricultores que têm áreas não utilizadas, ou pessoas que têm terras, mas não vivem no local; parceria rural, para agricultores que querem entrar em um novo mercado ou ampliar o seu cultivo e integração, voltada a agricultores que já têm Sistemas Agroflorestais e querem ampliar.

“No caso de Mato Grosso, o trabalho vai ser voltado ao arrendamento, principalmente porque a maioria dos produtores ainda não conhece o cacau. Então esta é a forma mais viável para começar. Claro que, se já houver alguém que saiba lidar com esta cultura, podemos partir de um ponto mais avançado”, afirma ele.

Segundo Valmir, o trabalho no Norte do Estado começa ainda neste ano, considerando o ciclo amazônico de chuvas. No início, o projeto contará com sete a doze produtores em áreas divididas entre 50 e 150 hectares. A escolha da região diz respeito às caraterísticas do cacau, que demanda muita irrigação.

“É possível fazer o mesmo em outros ecossistemas, mas a unidade e oferta de água na Amazônia trazem mais segurança para este começo.”

Implantação

Para a implantação, a primeira ação é uma avaliação da extensão e local da propriedade, para verificar se está na área de cobertura de um de nossos pólos de atuação. Em seguida, são feitas as análises documentais – escritura, CAR, CCIR, ITR – e geográfica, considerando topografia, altimetria, declividade, susceptibilidade a alagamentos ou deslizamentos.

Para aderir à proposta o agricultor não pode ter irregularidades ambientais. Caso as apresente, a startup oferece ajuda para a regularização. Os produtores interessados nos arrendamentos devem preencher um formulário disponível no site da startup, fornecendo dados que serão analisados pela equipe responsável.

Políticas públicas sustentáveis

De olho na ampliação do setor no Estado, a Belterra já busca uma aproximação com o Governo do Estado. Na última semana, Valmir se reuniu com representantes da Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec) para falar sobre as políticas públicas voltadas ao setor. Se bem-sucedido, o esforço representará o estabelecimento de outros negócios.

“Temos interesse, por exemplo, no sequestro de carbono, no desenvolvimento do setor madeireiro e, para o futuro, na adoção da cultura de açaí na região”, diz.

Sobre o investimento da Cargill, ele aponta que esta é uma tendência de mercado já praticada também por outras empresas, que buscam, como contrapartida para os recursos, driblar a crescente demanda por comprovação de boas práticas. Ou seja, os investidores precisam garantir a sustentabilidade e rastreabilidade da cadeia, serviço garantido pela startup, que baliza todos os critérios de compliance nas propriedades.

“Não existe conflito entre sustentabilidade e rentabilidade. É importante deixar claro que não estamos trocando uma coisa pela outra, são duas propostas atreladas”, destaca o CEO.

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