Um ano após investigação do Bureau of Investigative Journalism (TBIJ) apontar que a Marfrig comprava gado criado ilegalmente em terras indígenas, a Nestlé, a maior empresa de alimentos do mundo, removeu a gigante da carne de sua lista de fornecedores no Brasil.
De acordo com o TBIJ, grupo sem-fins-lucrativos criado por jornalistas do Reino Unido, até julho, vários frigoríficos da Marfrig estavam listados no site da Nestlé como fornecedores, mas nenhum deles aparece na lista atualizada de 2023. A carne era usada na fabricação de produtos para bebês, alimentos para animais de estimação e temperos.
Em setembro passado, uma investigação conjunta do TBIJ, do jornal britânico The Guardian e o site brasileiro O Joio e O Trigo descobriu que um frigorífico da Marfrig havia recebido gado de uma fazenda localizada dentro do território indígena Menku, em Mato Grosso, onde vive o povo Mỹky.
À época, um porta-voz da Nestlé disse ao TBIJ que a empresa decidiu eliminar gradualmente a Marfrig em 2021 e “pediu aos nossos fornecedores diretos que garantam que não recebemos ingredientes de carne da empresa.”
Os Mỹky vivem há séculos na região, que fica na fronteira entre a Floresta Amazônica e o Cerrado. No entanto, a terra tem sido constantemente invadida por fazendeiros que continuam a destruir extensas áreas da floresta.
“Este pasto, onde os brancos vivem, também era a nossa aldeia”, disse o ancião da aldeia Xinuxi Mỹky ao TBIJ. “Mas agora eles estão criando gado”.
Os fornecedores de gado da Marfrig analisados na investigação estavam ligados a mais de 150 km² de desmatamento nos últimos anos.
A Marfrig alega que não compra gado de fazendas que invadem ilegalmente terras indígenas ou destroem partes da floresta tropical. No entanto, também afirmou que só reconhece terras indígenas que receberam aprovação presidencial.
Conduta recorrente
Esta não é a primeira vez que a carne fornecida pela Marfrig é ligada à áreas ilegais. Como já mostrado pelo Gigante 163, em 2022, a Marfrig perdeu um empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid) de US$ 200 milhões (valor equivalente a mais de R$ 1 bilhão) por associação a desmatamento na Amazônia.
No mesmo ano, um dos maiores bancos do mundo, o francês BNP Paribas foi notificado apoiar a empresa, colaborando com o desmatamento na Amazônia e com graves violações de direitos humanos na região.
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