Apesar do crescente número de eventos climáticos extremos e na contramão de concorrentes internacionais, a área de lavoura segurada no Brasil diminuiu drasticamente nos últimos dois anos, de 13,69 milhões de hectares em 2021 para 7,12 milhões em 2022 e 6,25 milhões no ano passado.
A retração de 54,3% no período foi apontada pela consultoria Agroícone e publicada pela Valor. Os números consideram todas as culturas agrícolas passíveis de seguro. No Brasil, a grande parte da área coberta por seguros é de cultivo de grãos, como milho, soja e trigo.
Segundo o pesquisador Gustavo Dantas, o aumento das apólices após a seca de 2021 e a volatilidade dos recursos federais para subvenção ao seguro rural ajudam a explicar a redução. Além disso, houve alta dos custos de produção, o que diminui a capacidade de investimento.
“Nosso máximo da série histórica foi 14 milhões de hectares, o que significa que ainda temos um caminho grande a percorrer no Brasil”, afirma.
Olhando para o futuro, Rodrigo Motroni, vice-presidente da área de negócios da Newe Seguros, avalia que a área agrícola segurada pode cair mais uma vez este ano. Para ele, já há uma quebra de safra anunciada para os grãos em Mato Grosso nesta temporada 2023/24, por causa da seca no plantio, em decorrência do El Niño.
Se esse cenário se consolidar e os preços da soja subirem, haverá maior necessidade de seguro, mas a valores mais altos — o que pode contribuir para a queda na área segurada em 2024.
“A depender do preço do preço da commodity, vai ter potencial para queda de 15% para mais na área segurada. O preço da soja é muito importante. Sem falar nos eventos climáticos. Você tem eventos cada vez mais severos, e cada vez menos dinheiro para a subvenção”, diz.
Para Dantas, o quadro atual, de extremos climáticos cada vez mais frequentes, também pode ser uma oportunidade para se repensar os modelos de seguro rural adotados no Brasil.
Protegidos
Nos Estados Unidos, onde a área com cobertura de seguro rural cresceu cerca de 30% desde 2020, a maioria dos produtos agropecuários é classificada e regulamentada pela Agência de Gestão de Risco (RMA, na sigla em inglês). Somente em 2023, o subsídio total aos prêmios pagos em seguro agrícola pelo governo dos EUA chegou a US$ 11,3 bilhões.
Na Argentina e na Índia, as áreas seguradas também superam com folga a do Brasil. Em 2022, por exemplo, 21,22 milhões de hectares argentinos estavam segurados, assim como 22,16 milhões na Índia.
Por aqui, até o momento, a previsão é que o governo destine R$ 964,5 milhões para o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) em 2024, acima dos R$ 933 milhões executados no passado. Atendendo a uma demanda do setor, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tentou, no ano passado, uma suplementação para o seguro com a equipe econômica do governo, sem sucesso.
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