Os preços da soja no Brasil voltaram aos patamares de agosto de 2020, em termos nominais, na última semana, a despeito de uma safra que perdeu 20 milhões de toneladas de potencial produtivo, segundo apontam consultorias. De acordo com o Indicador EsalqBM&FBovespa para a soja em Paranaguá, a saca caiu para R$ 127,61 na sexta-feira, com recuo diário de 1,71%.
Ao Globo Rural, Ismael Menezes, da MD Commodities, uma das explicações para a queda no mercado doméstico é o recuo nos contratos futuros na bolsa de Chicago, pressionados pelas previsões favoráveis à safra da Argentina. Além disso, as chuvas recentes em regiões produtoras amenizaram as preocupações com a safra brasileira em 2023/24.
“Neste ano tivemos uma situação rara, com quebra de safra no Brasil e preços baixos, quando normalmente ocorre o contrário. Mas é importante lembrar que a quebra se deu pela expectativa de área plantada, e não em relação ao ciclo passado”, disse Luiz Pacheco, analista da T&F Consultoria Agroeconômica.
O recuo nos prêmios de exportação da oleaginosa no Brasil e a menor demanda internacional, sobretudo da China, também pressionam as cotações domésticas, segundo pesquisadores do Cepea-Esalq/USP. O prêmio é calculado pela diferença entre a cotação da soja praticada no mercado físico e na bolsa de Chicago.
“O Brasil tem um volume muito grande de estoque de passagem. Isso traz enorme pressão logística, e com o início da colheita no país, os prêmios teriam influência nesse movimento de queda”, disse Menezes
Segundo dados da MD, os prêmios em Paranaguá com embarque para março deste ano estão com desconto de 66 centavos de dólar por saca. “Os prêmios podem até chegar a 120 centavos [negativos], mas vai depender da pressão de compra e venda no Brasil”, acrescentou.
Na visão de Pacheco, da T&F, os preços da soja no Brasil devem orbitar entre R$ 105 e R$ 115 a saca no curto prazo. Ele acredita em altas pontuais, relacionadas ao aumento na mistura de biodiesel ao diesel, e ainda nas projeções de aumento de demanda pela indústria de ração animal.
Soja: quebra de safra x quebra de expectativa
Recentemente a Conab apontou para quebra de 4,2% — na expectativa, e não na safra em si da principal commodittie brasileira. Isto significa que este percentual de redução mencionado pelo órgão se refere às primeiras estimativas, feitas em outubro e novembro — e não é um comparativo com a safra 2022/2023.
Pelo contrário, a soja deve apresentar uma produção de 155,3 milhões de toneladas, ou 0,4% mais em relação à temporada passada. Com isso, “a estimativa da Conab [para soja] é superior à média dos últimos 11 anos”, segundo esclarece o órgão à Exame.
Quando avaliada a produtividade — fator que no campo correlaciona velocidade de plantio e colheita, clima, variedade de sementes e tamanho da produção —, aí sim é esperado um decréscimo. A oleaginosa deve render 3.431 quilos por hectares, o que é 2,2% a menos que na safra passada. A falta de chuva para o desenvolvimento da soja implica diretamente no peso do grão.
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