“Chamamos responsabilidade dos governos e de nós, cidadãos de bem do País, que temos feito do silêncio nossa cumplicidade. A Amazônia não é só ativo ambiental, mas principalmente ferramenta de acesso a mercados e acordos internacionais. No mundo ESG, vence quem tem melhor ativo a negociar, e nós estamos destruindo o nosso.”
Brito afirmou, ainda, que a imagem negativa do Brasil no exterior está se consolidando. “Estamos quase chegando ao ponto em que, sozinhos, não poderemos facilmente reverter essa curva. Não precisa ser mestre em Relações Internacionais para entender a gravidade dessa situação e possíveis impactos de longo prazo sobre produtos com a marca Made in Brazil”, disse ele. “O resgate da imagem tem de começar aqui dentro.” Nesse sentido, Brito elogiou o trabalho da Sociedade Rural Brasileira (SRB) e da ministra da Agricultura, Tereza Cristina que, afirmou Brito, “tem trabalhado diuturnamente na melhoria da governança pública para o setor”.
Um lado positivo citado por Brito foi que começou a se observar que a mídia internacional vem separando a maior parte da produção nacional em relação à Amazônia dos que desmatam ilegalmente – embora isso ainda não seja tão visto na pecuária.
Brito questionou se o Brasil será protagonista nos três grandes eventos que acontecerão este ano: a cúpula dos sistemas alimentares, em setembro, a conferência da biodiversidade, em outubro, e a conferência do clima, em novembro. “Qual será papel do Brasil nas três conferências? Seremos meros participantes ou protagonistas?”, indagou o presidente da Abag. “Na cúpula dos sistemas alimentares, seremos liderança com a ministra Tereza Cristina. Ficamos na torcida pelas outras duas.”
‘Sustentabilidade tem guiado as ações’
A ministra Tereza Cristina reafirmou nesta segunda-feira que a sustentabilidade tem guiado as ações da pasta da Agricultura e que o Brasil será um dos principais fornecedores de alimentos de baixo carbono na próxima década. “A agropecuária brasileira é a solução para os desafios da produção sustentável que enfrentamos”, disse ela no evento.
Tereza Cristina mencionou como parte desses esforços o lançamento de um Plano Safra “mais verde”, especialmente em virtude da ampliação de 101% na linha de crédito do Programa ABC, o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura. “Estamos garantindo um financiamento para reflorestamento e também para sistemas de geração de energia renovável, como com biogás e biometano”, acrescentou, ao dizer que o Plano Safra 2021/22 apresentou o ABC+, com diretrizes para a próxima década.
Outro projeto citado pela ministra foi o protocolo de carne carbono neutro ou de baixo carbono, lançado em parceria entre a Embrapa e o setor privado. Segundo ela, a empresa estatal de pesquisas já está desenvolvendo a mesma tecnologia para outras principais commodities agrícolas.
Do ponto de vista do produtor e do compromisso de avançar na efetiva implementação do Código Florestal, um destaque é o “Analisa CAR”, um sistema que utiliza tecnologia de geoprocessamento para avançar na análise automatizada do Cadastro Ambiental Rural (CAR), a fim de regularizar as propriedades agrícolas. “Precisamos da ajuda dos Estados para implementar essa ferramenta. É fundamental para que o Brasil consiga conciliar a produção com a conservação ambiental”, disse Tereza Cristina.
Quanto aos títulos verdes, a ministra acredita que o País pode se tornar líder da agenda global. Estima-se que, por enquanto, cerca de R$ 30 bilhões estejam investidos em gestão desses ativos no Brasil. No exterior, comentou a ministra, já são mais de US$ 1 trilhão de recursos investidos em fundos sustentáveis internacionais.
Tereza Cristina, que acabou de retornar de Roma, após a pré-cúpula dos sistemas alimentares, comentou que na reunião houve, pela primeira vez, um acordo e uma política única entre todos os países da América do Sul e do Caribe. “Essa é uma união importante para que a agenda que será debatida e lançada na Cúpula de setembro, em Nova York, englobe 16 pontos comuns que os países das Américas tiraram como principais”, avaliou.