A queima para produção e renovação de pastagem no Pantanal resultou no embargo de mais de 4,5 mil hectares e na aplicação de cerca de R$ 2 milhões em multas a três pecuaristas da região de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. O município concentra 3.704, ou 81% dos 4.553 focos de calor registrados neste ano no Pantanal, onde a área queimada já beira os 800 mil hectares segundo a última atualização do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do clima (MMA).
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em julho, agentes ambientais apreenderam três tratores e um correntão que estavam sendo utilizados por infratores para devastar uma área de mais de mil hectares, para produção de pasto. O equivalente a cerca de 140 campos de futebol já havia sido destruído pelos equipamentos e foi embargado para possibilitar a regeneração da vegetação nativa. O proprietário da fazenda foi multado em mais de R$ 1 milhão.
Em outra ação, com auxílio de imagens de satélite, foi identificada uma área próxima à captação de água de Corumbá, localizada entre o Canal Tamengo e o rio Paraguai, queimada ilegalmente também para renovação de pastagem, gerando incêndio que atingiu mais de 2,4 mil hectares, que foram embargados. Dois proprietários de bois e cavalos foram notificados a retirarem seus animais da área pertencente à União.
Falta de estratégia
Como já mostramos a queima para renovação pastagem, comum na região que passava metade do ano alagada, já é considerada inviável, uma vez que as condições do clima inviabilizam até mesmo a criação de aceiros que barram os incêndios. Além disso, a estratégia empobrece o solo e pode representar prejuízos no campo. Ou seja, o fogo, antes um aliado do produtor rural, agora é um inimigo.
“Estamos em um momento complexo de mudanças climáticas e transição de El Niño para La Niña, o que traz um novo comportamento do clima e um ambiente muito diferente, com nascentes diferentes das que se tinha na década de 60, quando houve uma seca parecida”, disse à reportagem o geógrafo e pesquisador do Instituto Gaia Pantanal, Clóvis Vailant.
Investigações
Junto à Polícia Federal (PF), o Ibama também vêm realizando perícias técnicas que apontarão as causas de cerca de 20 focos de calor. Foi a partir desses pontos que o fogo se espalhou pelo bioma. Há ainda 11 inquéritos civis abertos pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), decorrentes de investigações da PF e da Polícia Civil.
De acordo com o Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), todos os focos de calor contabilizados no Pantanal em maio e junho resultam da ação humana, não havendo registros de incêndios causados por raios no período. O documento mostra ainda que, do total da área queimada, 85% diz respeito a propriedades privadas.
O uso do fogo no bioma está proibido até o fim do ano. O crime tem pena de dois a quatro anos de prisão.
Sem controle
A proporção das labaredas exige um número cada vez maior de bombeiros , brigadistas e profissionais da segurança na região, onde já atuam cerca 1000 pessoas: em Mato Grosso do Sul, o trabalho já conta com combatentes de outros estados e em Mato Grosso, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMT) abriu processo seletivo para novas contratações. Contudo, se não houver uma mudança de estratégia dentro das propriedades rurais, os esforços contra as chamas nunca serão suficientes.
“Não é uma questão de contratar mais mil ou cinco mil brigadistas. O que a gente não pode e a legislação não permite é colocar as Forças Armadas, Polícia Federal e mesmo os brigadistas dentro das propriedades que são privadas. A gente não pode entrar porteira adentro, a não ser depois que acontece o fogo”, pontuou a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, durante entrevista coletiva recente em Corumbá.
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