Decisiva na hora de pensar sobre a venda da colheita e a compra de insumos para o próximo plantio, a relação de troca em 2023 é a mais favorável para o produtor brasileiro em oito anos. Para pagar pelo insumo hoje, o agricultor gastaria 18,8 sacas de soja, menos da metade das 40 gastas no ano passado.
Os cálculos são do analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza, que falou sobre o assunto à AgFeed. Segundo a publicação, toma-se por base a tonelada de cloreto de potássio, estimada entre R$ 2.100 a R$ 2.150 neste mês. Em junho de 2022, o valor estava entre R$ 4.800 a R$ 5 mil.
Como adiantado pelo Gigante 163, a temporada 2023/24 sairia mais barata, com queda estimada no preço de fertilizantes de 19,4%, de acordo com o Projeto Soja Brasil. Soma-se a isso, a redução de cerca de 15 % no valor das sementes na projeção entre janeiro deste ano e janeiro do ano que vem.
A relação de troca está muito generosa também para o milho de verão e de inverno, da temporada 23/24. Na formulação 020, a mais indicada para o cereal, o produtor que fosse travar as compras com as vendas estaria entregando para as distribuidoras em torno de 53 sacas. Em 2022, foram mais de 65.
Para o especialista, contudo, o cenário positivo não está sendo aproveitado, uma vez que o produtor estaria muito “atrasado” nas compras. Nem o rali das últimas duas semanas, que trouxe os preços das commodities para os tetos de Chicago, fez com que o setor partisse para a aquisição dos produtos.
Para Souza, retardar a decisão é uma aposta de risco. De acordo com ele, em 2022, nesse mesmo período, as condições climáticas sobre as plantações de soja e milho americanas viviam da volatilidade, hora os mapas meteorológicos precificando altas, hora baixas.
Como somente em agosto, às portas da colheita, o clima deixará de ter influência, a espera pode não ser mais correspondida em termos de preços de vendas, fechando a janela da relação de troca favorável. Além disso, até lá o cenário climático pode mudar radicalmente e as commodities voltarem a cair.
Estoque nas empresas
Souza explica que, ao segurar as aquisições à espera de preços melhores dos grãos, o produtor brasileiro acabou proporcionando um dos períodos de maior estoque nas empresas de insumos. Neste contexto, uma corrida aos fertilizantes certamente daria gás aos preços dos insumos, o que ocorre toda vez que a demanda cresce.
Mas outro fundamento de risco não pode ser esquecido. O analista da Agrinvest ressalta que as cotações internacionais do gás natural, que vinham caindo depois da forte alta do primeiro semestre de 2022, não têm garantia de permanência, o que pode trazer de volta a alta de preços para alguns fertilizantes.
A guerra entrou em um novo período com a contra ofensiva ucraniana, o líder russo Vladimir Putin segue ameaçando o Ocidente e não se descarta que possa haver novo choque de preços dos hidrocarburetos. Até a renovação do acordo de grãos do Mar Negro, prevista para julho, está ameaçada, o que reforça as incertezas no mercado.
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