Por André Garcia
Fundamental para a economia do Brasil, a soja teve receita bruta de R$ 434,5 bilhões em 2020 e está ligada direta ou indiretamente à geração de 2,05 milhões de empregos em todo o País. Estes números, porém, estão ameaçados pela crise climática, que, até 2050, pode causar perdas financeiras de mais de 60% ao setor, caso o produtores não invistam em práticas sustentáveis.
De acordo com relatório publicado nesta terça-feira 16/4 pela Orbitas, uma iniciativa da Climate Advisers especializada em cooperação climática, em um planeta 2° mais quente, os produtores terão ainda que lidar com a redução de 15% nos preços da oleaginosa e queda de 3% na demanda interna.
Além disso, essas mudanças resultariam em 11% a disponibilidade de terras agrícolas, aumentando a competição por espaço e, consequentemente, os custos de produção. Ou seja, os investimentos feitos hoje para aumentar a eficiência da produção de soja serão o principal diferencial para a competitividade do mercado.
“Para se manter lucrativa, a maioria dos produtores precisará intensificar a produção de forma sustentável sem converter florestas cada vez mais protegidas ou a vegetação natural em área de cultivo, nem depender de expansão de terras caras”, destaca trecho do relatório.
Produtores menos eficientes sofrerão mais
Os impactos da transição climática são mais significativos para os produtores menos eficientes, ou seja, aqueles com o menor nível de adoção de tecnologia e mais distantes da infraestrutura crítica da cadeia de suprimentos, inclusive centros de demanda, locais de processamento, instalações portuárias e redes rodoviárias extensas.
Nestes casos, os prejuízos podem ser de mais de R$ 3.085 por hectare caso eles não se adaptarem às transições climáticas até 2050. Segundo o relatório, contudo, as propriedades que deixarem de investir em práticas de manejo sustentável arriscam-se a enfrentar as perdas já em 2030.
“O setor terá que se adaptar para mitigar riscos e aproveitar as oportunidades emergentes da transição no Brasil e no exterior. Produtores, comerciantes, empresas e financiadores que planejam essas transições estarão melhor posicionados para suportá-las e colher os benefícios das oportunidades emergentes”, diz o texto.
Pontos fracos
A adaptação depende tanto do ritmo da mudança quanto da capacidade dos interessados. Neste contexto, modelos de negócios de baixa produtividade no setor de soja e que tradicionalmente dependem do desmatamento e da mudança no uso da terra para expansão econômica ficarão mais vulneráveis.
Por outro lado, os líderes de mercado devem avaliar e mitigar de forma proativa a exposição aos riscos de transição enquanto identificam oportunidades. Ao identificar as oportunidades e desafios para o Brasil, a Orbitas destaca pontos fracos relacionados à aplicação da lei limitada e inconsistente no caso do desmatamento.
Cita ainda que os custos de transporte para agricultores localizados longe de centros de demanda, das instalações de processamento e portuárias são altos, que a lucratividade é muito sensível às mudanças no preço da soja e que as exportações dependem bastante da procura de um único mercado – a China.
Resiliência
A resiliência econômica da atividade, dependerá dos financiadores e do governo brasileiro, que precisa aumentar os investimentos que ajudam os produtores a atingirem metas de produção sustentável e a diversificar a receita. produtores devem apostar na colaboração com outros setores agrícolas.
“Políticas coordenadas, incentivos de financiamento e providências em todos os setores agrícolas para promover a intensificação sustentável da produção de gado liberariam pastagens para soja e florestas, aliviando assim a competição pela terra, reduzindo os preços da terra e diminuindo os custos da produção para os produtores de soja.”
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