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Sem veneno: selo orgânico aumenta demanda por produtos

Sem veneno: selo orgânico aumenta demanda por produtosMercado de orgânicos registrou aumento de 30% nas vendas em 2020 Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

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Por André Garcia

Embora Mato Grosso possua mais de 160 mil agricultores familiares, apenas 217 estão inscritos no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Considerando que boa parte das hortaliças consumidas no Estado, o maior produtor de commodities do Brasil, é produzida em outras regiões, o número evidencia um grande desafio para a segurança alimentar.

Por outro lado, mostra o potencial de expansão da produção orgânica, que, como já mostramos, pode apresentar valor agregado até 30% em relação aos produtos comuns e trazer redução nos custos do produtor. Os benefícios da certificação já são constatados por Maria Aparecida Rodrigues, Silmara Assaiante e Rosângela dos Santos, que viram aumentar a demanda por seus produtos na região Norte de Mato Grosso.

Silmara Assaiante com seu marido, Adriano de Novais, Capanucci. Foto: ICV

Parte da Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (Repoama), elas receberam o certificado de conformidade orgânica há pouco mais de dois meses, depois de um longo processo de cultivo cuidadoso da terra, reunião de documentos e vistorias.  Assim, desde setembro de 2023 elas podem comercializar seus produtos com o selo.

A ideia de criar a Repoama surgiu a partir de um intercâmbio em uma propriedade orgânica no Rio Grande do Sul em 2018. O projeto é uma iniciativa do ICV com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES, do Programa Global REDD Early Movers (REM) e da União Europeia.

Depois de um longo processo, a rede foi credenciada em 2023 como um Sistema Participativo de Garantia (SPG) pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).Por meio desta modalidade, os próprios agricultores são capazes de fiscalizar as propriedades dos participantes e verificar se elas estão ou em conformidade com a legislação orgânica. Em caso positivo, eles recebem o certificado.

Hoje, cerca de 50 famílias fazem parte da Repoama. Elas residem nos municípios de Alta Floresta, Paranaíta, Nova Bandeirantes, Nova Monte Verde, Cotriguaçu e Colniza. Na última assembleia, 35 dessas famílias receberam a certificação orgânica. Na mesma ocasião, grupos dos municípios de Carlinda e Itaúba foram aceitos como novos membros da rede.

Para o coordenador do programa de Economias Sociais do Instituto Centro de Vida (ICV), Eduardo Darvin, a Repoama se destaca pela necessidade de união, apoio mútuo e responsabilidade compartilhada entre as famílias envolvidas. Ele considera a rede, ainda, como uma resistência agroecológica em um dos estados que mais utilizam agrotóxicos no mundo.

“A gente está falando de uma agricultura orgânica que vai ser comercializada. Estamos falando de pessoas, de famílias, que dependem da comercialização desses produtos. Então a gente também está falando de desenvolvimento local. Nós estamos falando do que é essencial também, da parte de cuidar da saúde, produzir alimentos saudáveis que respeitem a legislação ambiental e respeitem a natureza como um todo”.

Comida sem veneno

Maria Aparecida e Silmara residem em Nova Monte Verde (243 km de Cuiabá). Já Rosângela é de Nova Bandeirantes (995 km de Cuiabá). A luta das agricultoras para produzir sem agrotóxicos começou em meados de 2018, com a participação em palestras sobre os malefícios do uso dos defensivos agrícolas.

Rosângela nasceu na roça. Os pais vieram do Paraná para Mato Grosso em 1983 para trabalhar no campo. Plantavam arroz, milho, mandioca, café e feijão. Tudo era produzido com agrotóxico, pois era o que haviam aprendido ao longo da vida. Com os anos, a agricultora passou a se questionar se o método era o mais adequado.

“Na época em que a gente decidiu mudar, nossas verduras eram entregues para escolas e hospitais. Então eu pensava que a gente estava levando comida para as crianças com contaminação, com veneno. A gente foi aprendendo que aqueles produtos eram muito tóxicos e, então, decidiu ir pelo caminho mais saudável”, disse.

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