Por: André Garcia
Na quinta maior cidade produtora de grãos de Mato Grosso, 85% dos alimentos básicos vêm de outros estados. Em Sinop, um dos maiores exportadores de soja do estado, a balança comercial contrasta com a baixa oferta de hortaliças e frutas, em especial orgânicas. De olho nessa brecha, o projeto “Sinop Orgânico” propõe colocar comida fresca e livre de veneno nos pratos dos sinopenses a partir da agroecologia.
Chave da proposta, a agroecologia oferece menor custo de produção para quem planta e saúde para quem compra, podendo suprir uma tendência de mercado que se desenha a partir do aumento de 63% na procura por orgânicos no Brasil entre os anos de 2019 e 2021. É o que explica ao Gigante 163 o engenheiro agrônomo especialista em agroecologia e produção orgânica, Rogério Leschewitz.
“A produção em larga escala atende ao mercado internacional, mas não adianta só exportar. Precisamos de alimentos de qualidade chegando ao prato da população, principalmente a carente. Então o principal objetivo do Sinop Orgânico é promover a soberania alimentar para pessoas e comunidades”, afirma.
Sem insumos, hormônios, adubos químicos ou veneno, como na forma tradicional, o método oferece independência técnica e produtiva ao agricultor.
“A agroecologia respeita os processos da natureza. O agricultor aprende a produzir com o que tem na propriedade e não fica dependente de fatores externos, se tornando um mero consumidor de adubo químico, hormônios, agrotóxicos e outros insumos.”
Transição e valorização financeira
Diante destas premissas, o Sinop Orgânico abrangerá 50 propriedades que incluem pequenos produtores oriundos de assentamentos, propriedades periurbanas, famílias carentes da zona rural, entidades filantrópicas, instituições, associações e comunidades. Considerando o nicho dos orgânicos no Brasil, a previsão é de que, em breve, eles observem incremento de até 30% na comercialização de seus produtos.
A porcentagem diz respeito ao valor agregado a produtos certificados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que avalia o cumprimento de uma série de exigências para considerá-los como orgânicos.
“A agroecologia abrange uma série de modelos de produção, dentre os quais se encaixa o orgânico. O objetivo do projeto é concluir esta transição entre os modelos e receber a certificação do governo.”
Embora esta estimativa também ofereça uma boa perspectiva do ponto de vista financeiro, Rogério pondera que este não é o cerne da proposta.
“Este é um ponto positivo, mas o maior objetivo da produção orgânica não é o lucro por si só, mas sim a soberania alimentar e a independência do agricultor, a fim de que ele possa fornecer produtos saudáveis ao mesmo preço que os convencionais.”
O caminho para a equiparação de preços, portanto, se resume à lei de oferta e demanda. “É como o ouro, por exemplo. É caro porque existe pouco”, diz o engenheiro agrônomo. Logo, conclui-se que os produtores, ao compreenderem as demandas do mercado e colocarem mais orgânicos nas prateleiras, reduzirão o preço e aumentarão o consumo.
A partir deste entendimento, Rogério destaca que a agroecologia não se restringe à técnica produtiva e às questões ambientais e que leva em consideração também as relações de trabalho e demandas sociais.
“Não adianta você produzir para lucrar enquanto seu vizinho de cerca passa fome”, afirma.
O projeto
Segundo o agrônomo, este é um projeto piloto e a ideia é levá-lo para outros municípios. Considerado audacioso, se comparados os números de participantes de outras iniciativas do tipo na região, o Sinop Orgânico propõe modelos produtivos a partir das especificidades de cada propriedade. A partir disso, haverá prestação de assistência técnica e extensão continuada em agroecologia e produção orgânica.
Orçada em R$ 1,19 milhão, a proposta é executada pela Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistências e Extensão Rural (Empaer), em parceria com a Prefeitura Municipal, Embrapa, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Faculdade de Tecnologia de Sinop (Fastech), Associação AECAZ e Câmara Municipal.
Iniciado em julho de 2022, o Sinop Orgânico será desenvolvido até julho de 2025, período no qual serão realizadas visitas técnicas, capacitações, demonstrações de métodos, feiras, excursões e dias de campo. Além de trabalhar nos aspectos ambientais, sociais e produtivos, a proposta vai auxiliar na comercialização e industrialização da produção local, que deve ganhar uma feira própria.
LEIA MAIS:
Agroecologia traz aumento de 40% em vendas de pequenos produtores do norte de MT